Entregador que morreu após hemodiálise planejava viagem de moto para a Argentina
Uma pessoa apaixonada por anime (animação japonesa com desenhos e mangás em quadrinhos) que adorava motocicletas. Assim é descrito por parentes e amigos o entregador Bruno Rodrigues Ventura dos Santos, de 29 anos, que morreu após ser contaminado com ácido peracético , durante uma sessão de hemodiálise, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Ele chegou a ficar em coma por 19 dias, mas não resistiu. A morte impediu a realização de um sonho, segundo a família do rapaz.
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Dono de três motocicletas, ele estava acabando de consertar uma das motos, de 600 cilindradas. O veículo seria utilizado em uma viagem para Argentina, programada para ocorrer até o fim de 2025. A previsão é a de que o entregador seja sepultado, nesta quarta-feira, às 11h30 no Cemitério Municipal de Maricá.
—Meu filho tinha 29 anos, mas parecia uma criança. Adorava anime, vídeo game e motos. Era um garoto exemplar. Ele tinha três motocicletas, uma delas uma de 600 cilindradas, que estava acabando de consertar. O Bruno planejava viajar com esta moto para a Argentina. Iria com um amigo. Já havia viajado outras duas vezes para a Argentina, uma delas com a namorada. Ele adorava visitar o país—disse Márcio Luiz Alves dos Santos, de 51, pai de Bruno Rodrigues.
Bruno morreu após permanecer 19 dias em coma
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A Secretaria Estadual de Saúde informou, nesta terça-feira, ter iniciado a transferência de todos os pacientes renais regulados pelo Sistema Único de Saúde(SUS) que recebiam tratamento na clínica particular Nice Diálise, em São Gonçalo, na Região Metropolitana do Rio. Eles serão atendidos em outros estabelecimentos da região. A unidade seria a responsável por submeter o entregador Bruno Rodrigues Ventura dos Santos a uma sessão de hemodiálise, realizada no último dia 20. Na ocasião, segundo sua família, o paciente teve a corrente sanguínea contaminada com ácido peracético, usado na limpeza da máquina que faz a filtragem de sangue.
Trecho do boletim médico registrado ao paciente dar entrada no pronto socorro
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Após passar mal, ele foi removido para o Pronto Socorro Central Dr. Armando Gomes de Sá Couto, também localizado em São Gonçalo onde ficou em coma por 19 dias. Anteontem, o entregador perdeu a batalha que travava pela vida e morreu. Márcio Luiz Alves dos Santos, de 51, pai de Bruno Rodrigues, disse que vai continuar lutando para que os culpados pela morte do filho sejam punidos.
— Estamos lutando desde o começo. Já fizemos o boletim de ocorrência na 72ªDP(São Gonçalo)e avisamos aos órgãos reguladores o que aconteceu na clínica. Queremos que alguém seja punido. Queremos Justiça —disse, pouco depois de liberar o corpo do filho no Instituto Médico- Legal de Tribobó.
Segundo Márcio, em julho de 2024, Bruno descobriu que era doente renal crônico. Morador de Maricá, ele fazia o tratamento na clínica, em São Gonçalo, há mais de um ano.
—Em julho do ano passado meu filho sentiu uma dor na barriga. Foram feitos exames e descobriram a falência dos rins. Apesar disto, ele levava uma vida normal e ficou mais de um ano fazendo tratamento na clínica. Vinha três vezes por semana e era sempre atendido pela mesma pessoa. No dia 20 de agosto, a técnica que sempre atendia o meu filho não estava e ele foi atendido por outra pessoa. Ele entrou estava bem. Entrou, inclusive, com fones e ouvindo música. meia hora depois a gente reparou num tumulto, mas ninguém falou nada. Veio uma ambulância do Serviço Médico de Urgência(Samu) e outra dos bombeiros. Foi então que vi meu filho saindo na maca. Vi que ele estava retraído e se contorcendo — disse.
De acordo com a família, o médico da clínica informou que durante a sessão houve um "acidente" e que ácido teria entrado no sangue do paciente. Um documento, obtido pela família, aponta que havia resíduos do ácido na máquina de hemodiálise utilizada pelo entregador. Um laudo médico do pronto-socorro para onde Bruno foi levado corrobora a versão . O boletim médico aponta que o paciente deu entrada com "rebaixamento do nível de consciência durante a sessão, secundária à infusão acidental de ácido peracético".
O quadro de Bruno piorou rapidamente. O laudo ainda detalha que ele sofreu " hemorragia com edema cerebral difusa e anemia, além de distúrbios metabólicos e respiratórios". Ele precisou ser entubado e foi sedado. Anteontem, o rapaz não resistiu e morreu.
— Estamos destruídos com tudo o que aconteceu. Se depender da família a gente não vai parar nunca de lutar( para alguém ser punido pela morte). O que aconteceu foi grave e pode acontecer com outras pessoas — concluiu o pai do entregador.
Procurada, a Polícia Civil disse que um inquérito que apura crime de homicídio culposo foi instaurado e já está em fase final. A investigação tenta identificar os responsáveis pela morte do entregador. Também procurada, a Prefeitura de São Gonçalo disse que o contrato que mantinha com a clínica venceu em abril e não foi renovado. E que a regulação de pacientes do SUS era feito pela Secretaria Estadual de Saúde. O Extra não conseguiu contato com a clínica Nice Diálise.
Abaixo, a íntegra da nota enviada pela Secretaria Estadual de Saúde sobre a transferência de pacientes.
A Secretaria de Estado de Saúde lamenta profundamente o falecimento do paciente e se solidariza com familiares e amigos neste momento de dor. A SES informa que a clínica onde o caso ocorreu é particular conveniada ao SUS em contrato com o município de São Gonçalo. O credenciamento do prestador de serviços é feito pelo Ministério da Saúde. A SES está realizando a transferência dos pacientes que eram atendidos na clínica para unidades de referência na região para garantir a continuidade do tratamento."