Trump recebe príncipe herdeiro saudita na Casa Branca
O presidente americano, Donald Trump, recebeu o príncipe herdeiro saudita, Mohammed bin Salman, nesta terça-feira na Casa Branca, durante sua primeira viagem aos EUA em mais de sete anos. Um dia antes, Trump anunciou que planejava vender aviões de combate F-35 à Arábia Saudita, apesar das preocupações de autoridades de segurança nacional de seu governo de que a transação poderia abrir espaço para a China roubar a tecnologia avançada das aeronaves. Bin Salman, governante de fato do reino, e autoridades americanas devem discutir a compra saudita de 48 caças e um possível acordo de defesa mútua.
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— Vamos fazer isso, vamos vender F-35 — afirmou Trump a repórteres reunidos no Salão Oval, explicando que os sauditas “querem comprá-los, têm sido um grande aliado”.
O F-35 é produzido principalmente pela contratista de defesa Lockheed Martin, que fabrica entre 150 e 190 unidades por ano. Cerca de 20 países possuem ou encomendaram o modelo, que custa atualmente entre US$ 80 milhões e US$ 110 milhões cada, dependendo da versão, segundo contratos recentes. Um estudo de 2024 do Government Accountability Office apontou que o custo de manter uma frota desses aviões — projetados para durar décadas com uso normal — pode ser muito maior.
A Arábia Saudita há muito tempo é a maior compradora de armamentos americanos. Mas sua atuação no cenário internacional tem deixado parte do governo receosa quanto às implicações de segurança nacional de conceder a Riad acesso irrestrito a algumas das tecnologias furtivas mais sensíveis dos Estados Unidos.
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Um relatório recente da Agência de Inteligência de Defesa, parte do Pentágono, expressou preocupação de que a China possa acessar a tecnologia do F-35 caso os EUA finalizem um acordo de venda dos caças à Arábia Saudita, já que Riad e Pequim mantêm uma parceria de segurança.
Autoridades também levantaram temores de que a venda possa comprometer a “vantagem militar qualitativa” regional de Israel, hoje o único país do Oriente Médio que opera F-35 em seu arsenal. Israel vem pressionando o governo Trump a intermediar um acordo para normalizar relações com a Arábia Saudita — objetivo que parecia ao alcance antes da invasão sem precedentes do grupo terrorista Hamas, em 7 de outubro de 2023.
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Os anos sangrentos de hostilidades subsequentes em Gaza praticamente acabaram com a perspectiva desse pacto. O governo Trump não parece ter exigido que a Arábia Saudita estabeleça relações diplomáticas com Israel em troca da aprovação da venda dos F-35. E não há sinais de que Riad planeje normalizar os laços tão cedo, diante da indignação de muitos árabes com a guerra israelense em Gaza.
Segundo assessores familiarizados com as discussões — que falaram sob condição de anonimato para tratar de conversas privadas sobre uma possível legislação ainda não submetida ao Congresso — alguns parlamentares republicanos estão desconfortáveis em permitir que a venda avance sem a normalização entre Arábia Saudita e Israel. E o Aipac, o poderoso lobby pró-Israel, tem pressionado congressistas contra a medida na ausência dessa contrapartida.
Pela lei americana, o Congresso pode bloquear a venda, mesmo que o governo Trump dê o aval. No entanto, apesar das inúmeras críticas ao comportamento da Arábia Saudita nos últimos anos — especialmente às ações de seu príncipe-herdeiro — parlamentares tiveram pouco sucesso em restringir acordos de armas. E Trump tem demonstrado disposição para contornar os obstáculos impostos pelo Legislativo.
Em 2019, o primeiro governo Trump invocou poderes emergenciais para contornar o Congresso e aprovar uma venda de armas de US$ 8,1 bilhões para a Arábia Saudita, os Emirados Árabes Unidos e outros países. Semanas depois, Trump vetou resoluções bipartidárias que buscavam barrar a venda de parte desses armamentos aos sauditas e aos emiradenses.
Naquele momento, parlamentares de ambos os partidos estavam indignados com o assassinato de Jamal Khashoggi, jornalista do Washington Post morto por agentes do reino no consulado saudita em Istambul, em 2018. A inteligência americana concluiu posteriormente que o príncipe-herdeiro havia aprovado a operação.
Os congressistas também estavam cada vez mais frustrados com o príncipe-herdeiro devido à campanha de bombardeios da Arábia Saudita na guerra civil do Iêmen, que organizações de direitos humanos responsabilizam por agravar uma crise humanitária já devastadora.
Democratas continuam a levantar periodicamente preocupações sobre supostos abusos de direitos humanos cometidos pela Arábia Saudita. Mas, durante o governo Biden, até alguns dos críticos mais contundentes do reino dentro do partido pareciam dispostos a ouvir a Casa Branca enquanto buscava redefinir a relação com Riad por meio de negociações sobre normalização com Israel, um pacto de defesa mútua e o apoio para estabelecer um programa nuclear civil saudita.
Democratas provavelmente resistirão aos planos de Trump de vender os F-35 ao reino. Mas, apesar das reservas de parte do partido, vários republicanos influentes — incluindo o senador Jim Risch, de Idaho, presidente da Comissão de Relações Exteriores do Senado — devem apoiar a iniciativa, dada a defesa histórica que fazem da venda de armamentos avançados à Arábia Saudita como forma de contrapor a influência do Irã.