Complexo do Alemão: planilha revela gastos de R$ 5 milhões em um mês com armas e munição por criminosos do CV
Uma planilha extraída pela Polícia Civil da conta de WhatsApp do traficante Luiz Carlos Bandeira Rodrigues, o Da Roça, revela que o Comando Vermelho (CV) gastou mais de R$ 5 milhões em apenas um mês com a compra de armas e munição. O documento mostra que, nesse período, foram adquiridos pelo menos 44 mil cartuchos nos calibres 7,62 e 5,56 e 14 fuzis — sendo que um deles é um armamento calibre .50, de alto poder de fogo, capaz de atravessar vários tipos de blindagens e derrubar aeronaves. Da Roça é apontado como um dos principais responsáveis pela guerra expansionista do CV na Zona Oeste do Rio e, segundo a polícia, atualmente está abrigado no Complexo do Alemão.
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A partir da tabela, a polícia também conseguiu rastrear a origem de parte da munição usada para atirar contra as forças de segurança e em invasões de favelas rivais. A planilha menciona gastos de R$ 1,6 milhão com cartuchos de diferentes calibres enviados por um fornecedor identificado como “Bazzana”.
Segundo a Polícia Civil, trata-se de Eduardo Bazzana, atirador esportivo certificado pelo Exército que, até ser preso em maio passado, presidia o Clube Americanense de Tiro — com mais de 7 mil associados em todo o estado de São Paulo — e era dono de duas lojas de armas e munição registradas no Exército.
Eduardo Bazzana, atirador esportivo certificado pelo Exército que, até ser preso em maio passado, presidia o Clube Americanense de Tiro
Reprodução
A polícia também extraiu da conta de Da Roça diversos comprovantes de pagamentos feitos por pessoas apontadas como laranjas para contas pessoais de Bazzana ou de suas empresas. “Durante a investigação, são angariadas diversas imagens de comprovantes de transação, via PIX, com valores por laranjas do tráfico às contas de Eduardo e da sua empresa, coincidindo com os valores e as datas constantes na planilha retirada da nuvem de Da Roça, ratificando que Eduardo Bazzana recebe dinheiro decorrente da venda direta de aparato bélico a traficantes da cúpula da facção Comando Vermelho”, afirmam os promotores do Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) na denúncia decorrente da investigação.
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Da Roça é um criminoso do CV oriundo de Rondônia que ascendeu nos últimos anos na hierarquia do grupo ao participar da tomada de favelas na Grande Jacarepaguá. Segundo a polícia, como recompensa pelos serviços prestados, recebeu de Edgar Alves de Andrade, o Doca, chefe do tráfico no Complexo da Penha, o controle da favela da Muzema, na Zona Sudoeste, ex-reduto de milicianos. Lá, Da Roça passou a administrar, além do tráfico, uma série de outros serviços explorados pela facção, como a cobrança de taxas de moradores e comerciantes, roubo de veículos e cargas, venda clandestina de “gatonet” e grilagem de imóveis.
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Assim, de acordo com a investigação, tornou-se um dos principais arrecadadores do chamado fundo de guerra do CV — estrutura financeira que sustenta a compra de armas de grosso calibre usadas em confrontos contra facções rivais e milícias.
Com a nova posição, Da Roça passou a operar como importador e distribuidor estratégico de armamento e drogas para o CV, comprando cargas de fornecedores interestaduais e revendendo para outros chefes de diferentes favelas do estado.
Já Bazzana, de 68 anos, era visto como um empresário respeitado em Americana, cidade de 237 mil habitantes no interior de São Paulo. Seu clube de tiro, que já sediou um campeonato sul-americano da modalidade, era frequentado por médicos, advogados, políticos e policiais. Ele cobrava dos filiados uma taxa anual de R$ 750. Em seu site, gabava-se de ter vagas para cem veículos, restaurante, quiosque com redes e de ser um dos poucos do Brasil com estrutura para atletas com necessidades especiais.
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No processo em que responde por fornecer munição ao CV, sua defesa alega que “a partir de 1º de janeiro de 2023, está havendo uma verdadeira caça às bruxas para quem atua nesta área, seja ele Atirador Desportivo, Caçador, Colecionador ou dono de loja ou clubes, como é o caso do Sr. Eduardo Bazzana, um homem de 69 anos de idade, honrado pai de três filhos e avô de dois netos, e o único crime que ele cometeu nesta vida toda foi pagar seus impostos e não ser reconhecido como empresário digno e honesto que sempre foi”."
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