Hospedagem de Belém muda nome de 'Nota 10' para 'Hotel COP30' e passa a cobrar 80 vezes mais na diária para conferência
Antes chamado "Hotel Notal 10", um estabelecimento de Belém trocou de nome para "Hotel COP30" e, a cem dias da realiação da conferência do clima na cidade, passou a cobrar cerca de 80 vezes mais pela diária. O movimento ocorre em meio a uma pressão internacional pela redução do valor das hospedagens na capital do Pará, que inclui até pedidos para que a sede do evento seja modificada.
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Em abril de 2023, o preço cobrado por um pernoite no "Hotel Nota 10" era de R$ 70, como atesta uma imagem obtida pelo GLOBO na plataforma Google Street View. Durante a conferência do clima, que ocorrerá entre os dias 10 e 21 de novembro, o custo mais baixo para oito dias de hospedagem no "Hotel COP30", pelo Booking, é de R$ 45.360 para um único hóspede. Isso equivale a uma diária de R$ 5.670, ou 81 vezes mais do que o valor praticado há pouco mais de dois anos.
Procurado pela reportagem por telefone, o estabelecimento afirmou que a troca de nome ocorreu após o espaço ser vendido e reformado, mas não precisou quando as mudanças ocorreram. O espaço argumentou ainda que o acréscimo no preço da diária acompanha a tabela que será praticada em Belém durante o evento.
— O valor é até muito abaixo da média do que está sendo cobrado. O crescimento na conferência é como acontece durante datas comemorativas, como o Círio de Nazaré. Nós somos pequenos dentro do cenário paraense e estamos acompanhando o mercado. Por que nós, como responsáveis por um hotel de 17 quartos, não podemos alugar por uma diária de R$ 5 mil, e os grandes hotéis podem cobrar valores altos? — questionou Alcides Moura, gerente do hotel.
Preços cobrados pelo "Hotel COP30" no Booking
Reprodução
Horas depois do primeiro contato, o hotel voltou a procurar a reportagem por mensagem informando que, até o momento, "nenhuma diária foi fechada na temporada da COP30". Segundo o estabelecimento, é preciso aguardar "o que será definido nesta questão dos preços".
— Nós colocamos a oferta no Booking, mas ainda não aceitamos nenhuma das reservas porque estamos analisando tudo — disse Moura.
O hotel está localizado na Travessa 1º de Março, no bairro Campina, em Belém. O estabelecimento fica a uma distância de pouco mais de 6 quilômetros do Centro de Convenções da Amazônia, que deve receber a maior parte das reuniões durante a COP30.
Reunião de emergência
Na última terça-feira, o escritório climático da Organização das Nações Unidas (ONU) realizou uma reunião de emergência para debater soluções para a situação hoteleira de Belém, diante da queixa internacional por conta do alto preço cobrado por acomodações na capital do Pará. Na quinta-feira, o embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30, confirmou que, durante o encontro, países pediram abertamente que o evento passe por uma alteração de local.
— Tornou-se público que diversos países do grupo que faz parte da administração da convenção (veem) a questão do preço dos hotéis como uma preocupação. Representantes de regiões pediram para tirar a COP de Belém. Isso aconteceu em uma reunião anteontem — disse Corrêa do Lago. —Acredito que talvez os hotéis não estejam se dando conta da crise que eles estão provocando.
Nesta sexta-feira, o embaixador afirmou, porém, que não considera tirar a COP30 de Belém:
— Quero deixar bem claro que a COP vai ser em Belém, o encontro de chefes de estado vai ser em Belém, e não há nenhum plano B — disse o diplomata em entrevista coletiva. — O que aconteceu é que ocorreu uma reunião de emergência em que se manifestaram representantes de países. Isso foi atribuído a mim, mas eu estava relatando, apenas. O que os representantes disseram é que há uma preocupação muito grande por causa dos preços para hospedagem em Belém e que esses preços estão muito acima de qualquer aumento que se tenha conhecimento em qualquer outra COP.
O setor hoteleiro de Belém reagiu às críticas relativas aos preços das hospedagens no período da COP30. Eduardo Boullosa, presidente do sindicato que representa a categoria na capital paraense e em Ananindeua, afirmou ter firmado compromisso por tarifas mais baratas para as delegações de países em desenvolvimento.
— Estão querendo tirar a todo custo a COP de Belém, o que não é a primeira vez — disse Boullosa ao GLOBO. — Estamos todos (governo do Estado e setor hoteleiro) de mãos dadas com o mesmo objetivo. A presidência da COP quer acabar com o Brasil, puxando a toalha da mesa.
Já Tony Santiago, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA), afirmou ao GLOBO que "o embaixador em questão está mal informado". De acordo com o empresário, a entidade foi demandada no início de junho para que providenciasse 500 apartamentos com tarifas entre 100 e 300 dólares. Essas unidades seriam destinadas ao países "menos favorecidos economicamente".
— Acho que muita gente não sabe que fizemos o que nos foi solicitado — destacou Santiago. — Há uma inversão de fatos. Quem deve ser cobrada por hospedagem é a Secretaria da COP30, que até hoje não conseguiu botar no ar a plataforma de hospedagem que prometeu no início do ano. É isso que está tumultuando todo o processo.
A plataforma citada pelo empresário foi lançada na tarde desta sexta-feira, com meses de atraso. No entanto, a ferramenta ainda apresentava instabilidade e era preciso aguardar numa fila que chegava a superar duas mil pessoas para acessar o serviço.