F1: 'É preciso manter os pés no chão, mas ele está fazendo um bom trabalho', diz Vettel sobre Bortoleto
Tetracampeão mundial de Fórmula 1, Sebastian Vettel deixou as pistas no fim de 2022, mas não se afastou totalmente do automobilismo. O alemão se aposentou como piloto, mas agora, aos 38 anos, usa sua influência na busca por um futuro mais sustentável para a categoria. Esta semana, ele voltou ao Brasil — onde nos últimos anos realizou ações sociais para além das corridas e até visitou a Amazônia — para falar do assunto. Deu palestra na Rio Innovation Week, na última terça-feira, no Píer Mauá. Seu painel, com o tema “Não existe um campeão mundial sem o mundo”, abriu o evento. Antes, Vettel conversou com alguns jornalistas sobre os desafios do esporte, seus planos profissionais e o legado que quer deixar, além de ter elogiado o começo de Gabriel Bortoleto, piloto da Kick Sauber e primeiro brasileiro no grid da F1 desde 2017.
Gabriel Bortoleto, piloto da Sauber
Sauber / Divulgação
Qual sua avaliação sobre o Bortoleto até aqui?
É preciso manter os pés no chão, mas ele está fazendo um bom trabalho. Ele levou um tempo para se adaptar, mas está ficando cada vez mais consistente, mais à vontade e familiarizado com a equipe. Obviamente, há muitas coisas diferentes na F1 quando você começa, então dê tempo a ele. O próximo ano será de grande mudança para a equipe, com um nome diferente (Audi), pessoas diferentes e expectativas diferentes, então veremos.
Consideraria retornar à F1 em algum cargo?
— Mantenho contato com Stefano (Domenicali), que é o CEO da F1. Estou tentando entender se há algo que possamos fazer juntos. Em Ímola, eu tinha os projetos em torno do Ayrton (Senna) e sua morte há muitos anos, para lembrar dele e garantir que sua história tão poderosa — e ele tinha tantas coisas boas, não apenas na pista, mas também fora dela — fosse lembrada. E também ensinar às próximas gerações de pilotos, lembrar que há mais na pilotagem do que apenas sentar-se em um carro e dirigir. Então, sim, veremos. As conversas ainda estão em andamento e eu não sei, mas talvez no futuro possa ter algo.
Quais são os principais desafios para o futuro da F1?
— Acho importante que uma plataforma como a F1 esteja se tornando mais sustentável, tentando contribuir e tornar o mundo um lugar melhor. O que é um grande desafio, porque ela faz muitas pessoas se deslocarem pelo planeta. Um campeonato mundial é realizado ao redor do globo, então muitas pessoas vêm assistir e aproveitar o entretenimento. Ao mesmo tempo, você tem a responsabilidade de fazer isso de uma forma mais sustentável no futuro, porque o mundo depende disso. Então, não acho que seja uma coisa ou outra. O desafio é, obviamente, unir as duas, e é isso que também estou tentando abordar, colocar sob os holofotes e conscientizar com os projetos que fizemos no passado e os que virão no futuro.
Como vê as mudanças na F1 para 2026, como as metas de um combustível sustentável? É possível ou há uma contradição entre meio ambiente e automobilismo?
— Sempre há algumas coisas que ainda não estão onde talvez deveriam estar. Mas acho que, no geral, há um plano. O combustível será trocado para o próximo ano por combustíveis sustentáveis, o que está indo na direção certa, considerando a fórmula atual do motor. Então, veremos o que o futuro nos reserva. Mas, além disso, e além de como você abastece ou impulsiona os carros, é muito mais importante se preocupar com a logística em torno de como você transporta as pessoas de um lugar para outro. E também há muitas coisas em que talvez a F1 esteja se apoiando em outras soluções. Mas acho justo que você olhe para a F1, aponte o dedo e diga que precisa tomar medidas, o que eu acho que eles estão tentando e estão fazendo. Obviamente, as coisas levam tempo às vezes, e por vários motivos, mas é importante manter a pressão. E veremos mudanças. Já vimos mudanças. Continuaremos vendo mudanças no futuro. Portanto, é um desafio enorme, não apenas para a F1. É um desafio enorme para todos nós. Vim aqui de carro esta manhã. Não era um carro elétrico, e o carro elétrico certamente terá um lugar no futuro. Mas em muitos países há problemas com os carros elétricos. É preciso analisar qual solução se encaixa melhor agora e, obviamente, mudar de acordo com o que estiver planejado para daqui a cinco, dez anos, etc.
Sobre carros elétricos, o que acha da Fórmula E?
— Se você olhar para a F1, acho que as corridas sempre foram de 300 km (distância total). Atualmente, não há bateria que consiga percorrer essa distância com aquela velocidade. Então, acho que é uma Fórmula diferente. Acho que a F1 é muito mais emocionante, muito mais rápida. A Fórmula E é especial porque você está muito perto, dentro das cidades e em pistas diferentes, não em pistas permanentes. É diferente e talvez não seja justo comparar as duas. Mas o verdadeiro desafio e o verdadeiro objetivo deve ser tornar a F1 sustentável, porque é o auge do automobilismo. É o que a maioria das pessoas acompanha e assiste. Se a F1 puder ser sustentável, acho que muitos outros esportes seguirão o exemplo e não haverá mais desculpas.
Qual a importância de nomes grandes como você e Lewis Hamilton se tornarem vozes ativas socialmente?
É importante. Talvez eu tenha ficado quieto por tempo demais, talvez seja uma coisa da qual me arrependa. Cada um tem assuntos diferentes que importam para si. E você deve ter a coragem de ser você mesmo, não ter medo do que os outros pensam e se manifestar sobre coisas que você acha que são certas e precisam ser discutidas. Eu adoraria ver mais e mais pilotos, especialmente jovens, encontrando sua voz e usando a plataforma que eles têm.
Acha que pode mudar o mundo com sua influência?
— Bem, espero ter um pouco de influência. É, definitivamente, muito inspirador para mim, olhar para diferentes áreas, falar com muitas pessoas diferentes, ver a paixão delas quando se trata de meio ambiente e como elas realmente querem tornar o mundo um lugar melhor. E se eu puder ajudar a dar um pouco de destaque a elas e a tópicos importantes, acho que é uma boa influência.
Acha que o esporte (em geral) está no caminho certo para a sustentabilidade?
— É um progresso lento, mas, definitivamente, há pessoas sérias que estão se esforçando muito e tentando causar impacto. É um grande desafio porque muitas coisas foram feitas da mesma forma anteriormente, mas isso não justifica fazer exatamente como se fazia no passado. Todos nós precisamos de mudança em diferentes áreas, e o esporte é uma delas. O esporte é tão empolgante porque atrai tantas pessoas, tantas pessoas acompanham, e há um enorme poder de inspiração. Então, há uma responsabilidade extra quando se olha para o esporte. A F1 é global, mas você olha para diferentes categorias, séries e ligas ao redor do mundo. O futebol é um esporte enorme no Brasil. É o maior esporte na Alemanha também. E também há uma responsabilidade enorme em como você impulsiona as partidas, como você atrai pessoas, como você resolve os problemas de logística. E já existem muitas soluções em andamento. A adaptação é lenta, mas há cada vez mais impulso. Mais e mais pessoas para lidar com as coisas certas e mais e mais pessoas assumindo o comando com boas ideias. Então, estou bastante otimista em relação ao futuro.
Por que o Brasil é tão especial para você?
— Não sei, acho que poderia fazer a pergunta ao contrário. Lembro-me de muitas corridas aqui, altos e baixos, boas lembranças, em sua maioria boas lembranças, e algumas delas muito difíceis de digerir, como em 2009 (ele terminou o GP do Brasil em 16º e depois acabou perdendo o título mundial para Jenson Button). Mas, no geral, sempre gostei de vir aqui, adoro as pessoas, adoro a atmosfera. E nos últimos anos, obviamente, conheci um pouco mais sobre o país, o que tem sido muito inspirador e revelador. Antes disso, era basicamente São Paulo, indo e voltando, porque estava no calendário e a próxima parada estava na lista. Mas agora, com um pouco mais de tempo, realmente gosto e há muito mais coisas para ver, muito mais pessoas para conhecer e coisas para aprender.