Maior das Américas, paredes lisas e luzes 24h: como é a megaprisão em El Salvador visitada por Nikolas Ferreira
O deputado federal Nikolas Ferreira (PL-MG) gerou debate nas redes sociais ao visitar esta semana a maior prisão das Américas, o Centro de Confinamento do Terrorismo (CECOT), em El Salvador. Opositores criticaram o parlamentar por um suposto "turismo" na penitenciária de segurança máxima, enquanto apoiadores saudaram a iniciativa de, como disse o próprio Nikolas, "aprender de perto" como o país comandado por Nayib Bukele enfrenta a criminalidade. Outros questionaram o engajamento na pauta do deputado, que cedeu a relatoria do PL Antifacção a Guilherme Derrite (PP-SP), em meio à pressão dos Estados Unidos para que facções criminosas fossem classificadas como terroristas.
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O Cecot foi inaugurado com pompa em julho de 2022, durante o primeiro mandato de Bukele. A prisão de segurança máxima, conhecida como a Alcatraz da América Central — uma referência àquela que foi considerada a mais segura do mundo por anos — transformou-se em um símbolo da guerra contra as organizações criminosas lançada pelo presidente salvadorenho. A política diminuiu vertiginosamente o número de crimes violentos no país, fulminou as gangues a Mara Salvatrucha (MS-13) e Barrio 18 (que dominavam porções do país), ao custo de um regime de exceção que deteve cerca de 83 mil pessoas sem ordem judicial.
Pelas redes sociais, Nikolas destacou que El Salvador foi "transformado" pela política de Bukele e publicou fotos dentro do Cecot. O parlamentar afirmou que voltaria ao país com "esperança" de "resgatar" também o Brasil.
"Fiquei frente a frente com os maiores bandidos do mundo. E sim, aqui os direitos humanos funciona: sem privilégios, mordomias ou regalias para eles. Somente o firme rigor da lei. Aqui se paga - e muito caro", disse o deputado, que também discursou no 30° Fórum de Inteligência e Segurança, na viagem.
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O regime prisional no Cecot é extremamente rígido. Luzes artificiais iluminam as celas e o pátio interno 24 horas por dia. Os prisioneiros dormem em camas de ferro com chapas de metal que chegam até o teto. Um circuito de segurança fechado observa cada movimento. Uma reportagem publicada pelo jornal El País, no ano passado, constatou que os presos naquela unidade comem feijão e arroz com as mãos, porque garfos e facas podem se tornar armas mortais. Banho e higiene dental, apenas em bacias de pedra. Banheiro, nos fundos, à vista de todos.
Os detentos têm permissão de no máximo 30 minutos por dia para sair para um enorme corredor interno, sempre com algemas nas mãos e nos pés — e observados por policiais encapuzados e armados com rifles, posicionados no telhado.
Na maior parte do tempo, os presos ficam sozinhos. Duas bíblias ficam disponíveis em cada quarto, embora eles não recebam nenhuma assistência espiritual.
Nenhuma pessoa que entrou algemada no Cecot jamais conseguiu escapar. Para fugir da prisão, teriam de passar por quatro muros de 60 centímetros de espessura e três metros de altura, cobertos por arame farpado. O chão de cascalho denunciaria seus passos.
Apenas um fluxo de ar escapa por uma abertura no teto, que é impossível de escalar através das paredes lisas. Atrás das grades estão os prisioneiros mais perigosos do país. Pessoas com dezenas de assassinatos nas costas, cumprindo penas de 700 anos. Há oito módulos com um número indeterminado de prisioneiros.
Nas redes sociais, internautas se dividiram sobre a visita de Nikolas Ferreira ao Cecot.
"Eu já vi o documentário sobre essa prisão, muito bacana! Ah, se o Brasil seguisse esse exemplo", escreveu um apoiador, no X. "Traz esse modelo para cá", pediu outro.
Críticos do deputado afirmaram não ser possível comparar El Salvador com um país como o Brasil, de dimensões "continentais", e questionaram o foco do parlamentar e a decisão de ceder a relatoria do projeto contra facções no Brasil.
"É engraçado achar que vai aprender segurança pública fazendo turismo em presídio por 1 dia", destacou uma internauta. "Ele faz de tudo, menos trabalhar no Congresso onde ele deveria estar", escreveu outro usuário do X. "Por que arregou no projeto que transformava PCC e CV em organização criminosa?", perguntou um terceiro.