Banco Central foi alertado durante anos sobre riscos do Banco Master
O Banco Central, principal órgão regulador financeiro do Brasil, foi alertado durante anos de que o Banco Master, que foi liquidado nesta semana em meio a alegações de fraude, estava se expandindo em um ritmo alarmante enquanto detinha ativos obscuros.
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O sistema nacional de garantia de depósitos, conhecido como Fundo Garantidor de Crédito (FGC), enviou cartas de advertência ao BC, enquanto executivos dos maiores bancos do Brasil, principais financiadores do FGC, também entraram em contato com a autoridade monetária para expressar preocupação, segundo pessoas familiarizadas com o assunto.
Alguns banqueiros, bem como executivos do FGC, chegaram a falar diretamente com o então presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, que prometeu agir, disseram as pessoas, que pediram para não serem identificadas discutindo informações privadas.
Campos Neto deixou o cargo em janeiro e agora faz parte do Nubank. Ele foi substituído na autoridade monetária por Gabriel Galípolo, que agora se vê diante da tarefa de resolver o caso do Master.
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O FGC afirmou que mantém, desde 2019, um acordo de cooperação com o Banco Central, responsável pela fiscalização e regulação das instituições financeiras. Segundo comunicado, esse acordo promove a troca contínua de informações entre as instituições em reuniões regulares, visando fortalecer a estabilidade do sistema financeiro nacional.
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O FGC acrescentou que não reconhece declarações atribuídas a seus administradores sob anonimato, nem a existência de comunicações ocasionais fora dos canais institucionais.
Campos Neto não comentou, enquanto um representante do Banco Central não respondeu imediatamente a um pedido de comentário.
Na terça-feira, o Banco Central anunciou a liquidação do Master, uma medida que, segundo a FGC, levará ao pagamento de até R$ 41 bilhões a cerca de 1,6 milhão de credores do banco, um valor recorde para o fundo segurador.
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A liquidação pode custar ainda mais ao FGC, até R$ 55 bilhões, caso outros bancos menores relacionados ao caso também sejam liquidados, segundo uma pessoa familiarizada com o assunto.
O fundo tem recursos para isso: no fim de setembro, o FGC possuía R$ 160 bilhões em patrimônio e cerca de R$ 122 bilhões em liquidez, segundo comunicado divulgado na terça-feira. Mas o fundo precisará ser recapitalizado já no início do próximo ano pelos maiores bancos brasileiros, afirmou a fonte.
O FGC ainda está trabalhando para calcular quanto os bancos precisarão pagar, disse outra fonte familiarizada com o assunto. As instituições provavelmente irão repor o valor adiantando contribuições futuras, mas o processo pode levar alguns anos, acrescentou a pessoa.
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O Fundo afirmou em comunicado que não há um prazo definido na regulamentação para a reposição dos recursos e que o tema será debatido, levando em consideração o impacto no sistema e a preservação da capitalização do fundo.
O CEO do Master, Daniel Vorcaro, foi preso em uma investigação da Polícia Federal. Ele e seus sócios criaram o Master em 2017 após adquirirem um pequeno banco e ajustarem sua estratégia e nome. O Master dependia fortemente de captações feitas junto a investidores individuais garantidas pelo FGC, que é financiado por contribuições dos bancos. Quanto maiores os depósitos de um banco, maior sua contribuição para o FGC.
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Vorcaro declarou estar disposto a cooperar com as autoridades, de acordo com um comunicado divulgado na terça-feira. Na quinta-feira, a Justiça manteve a prisão de Vorcaro.
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Ao mesmo tempo, uma parcela considerável dos ativos do Master era composta por fundos vinculados a crédito e fundos de investimento em ações, que são mais difíceis de vender do que títulos do governo. Esses fundos representavam 69% dos ativos líquidos do banco em junho de 2024, segundo a Moody’s.
Havia preocupações porque não estava claro qual era o negócio do Master, pontos que também foram levantados junto ao Banco Central, disse outro CEO de um banco de forma privada.
Executivos do Master, que ascendeu da obscuridade a um agente em ascensão do setor financeiro brasileiro nos últimos cinco anos, são acusados de falsificação de instrumentos de crédito, segundo autoridades federais. A empresa atraiu investidores de varejo com remuneração acima da média do mercado para depósitos, além de buscar investimentos diversificados com uma série de parceiros comerciais ligados à empresa.
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O banco começou a enfrentar mais obstáculos em 2023, quando uma mudança nas regras do FGC dificultou o uso da garantia e ameaçou impactar os negócios. No fim de 2024, a PF e promotores iniciaram uma investigação sobre a venda de carteiras da Master para o Banco de Brasília, controlado pelo governo do Distrito Federal.
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Em março, o BRB, como o banco é conhecido, concordou em adquirir o Master, um negócio que gerou críticas por ser considerado por alguns como um resgate governamental. Em setembro, o Banco Central rejeitou a transação.
O CEO do BRB, Paulo Henrique Costa, foi afastado do cargo e está nos Estados Unidos, de acordo com a imprensa local.
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O BRB afirmou ter notificado o Banco Central sobre as operações de compra de crédito do Master assim que identificou a possível participação de um terceiro, contrariando a obrigação contratual de que todos os empréstimos deveriam ter origem no Master. Segundo o BRB, a ordem do Banco Central para interromper as operações foi cumprida assim que foi emitida.
Na noite de terça-feira, o Conselho de Administração do BRB decidiu contratar uma auditoria externa especializada para apurar operações mencionadas pela Operação Compliance Zero da PF. A decisão foi comunicada ao mercado na quarta-feira, por meio de um comunicado enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM).
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