Israel diz que não vai reconhecer Estado palestino enquanto ONU se prepara para votar plano para Gaza
O primeiro-ministro de Israel, Benjamin Netanyahu, disse neste domingo em uma reunião de gabinete que não haverá Estado da Palestina e que o Hamas será desarmado — pela força, se necessário. A declaração se dá após o líder israelense ter sido criticado dentro de sua coalizão governista sobre a resolução dos Estado Unidos que busca a aprovação do Conselho de Segurança da ONU para um plano para Gaza que antecipa a criação de um aparato estatal para o território palestino.
Entrevista: Julgamento de Israel é mais severo do que o de outros países, diz autor judeu de livro sobre antissemitismo
Veja também: EUA sabiam que israelenses discutiram uso de palestinos como escudos humanos em Gaza
— Nossa oposição a um Estado palestino em qualquer território não mudou — afirmou Netanyahu, acrescentando: — Gaza será desmilitarizada e o Hamas será desarmado, da maneira fácil ou da maneira difícil.
O texto final ainda não foi divulgado, mas na sexta-feira os EUA, acompanhados por oito governos árabes e muçulmanos, emitiram uma declaração apoiando a resolução, dizendo que ela “oferece um caminho para a autodeterminação e a criação de um Estado palestino”.
Seus comentários também foram feitos enquanto o príncipe herdeiro saudita Mohammed al Salman se prepara para visitar Washington para uma reunião com o presidente Donald Trump, sua primeira viagem à Casa Branca em sete anos.
Initial plugin text
Israel e o Hamas chegaram a um cessar-fogo há cinco semanas, após dois anos de guerra. O presidente dos EUA, Donald Trump, intermediou a trégua, que começou com o Hamas libertando reféns israelenses e Israel libertando prisioneiros palestinos. Enquanto os corpos de três reféns ainda não foram devolvidos, a atenção se volta para a próxima fase, mais difícil, que é remover o Hamas do poder em Gaza e reconstruir a faixa costeira devastada.
No Washington Post na sexta-feira, Michael Waltz, embaixador dos EUA na ONU, escreveu que o próximo passo é estabelecer uma força multinacional de estabilização “com o mandato de desmilitarizar Gaza, desmantelar a infraestrutura terrorista, desativar as armas usadas por terroristas e manter a segurança do povo palestino por um período de dois anos”.
O Conselho de Segurança da ONU deve debater na segunda-feira a resolução dos EUA que estabelece essas disposições. A Rússia apresentou uma resolução concorrente. Netanyahu e o presidente russo, Vladimir Putin, conversaram por telefone no sábado, sem que detalhes fossem divulgados.
Initial plugin text
Embora tanto o cessar-fogo de Trump quanto a resolução da ONU se refiram a um esforço multinacional de manutenção da paz, não está claro quem participará ou quais serão suas funções. Vários países parecem dispostos a fornecer tropas em princípio, mas não querem ser responsáveis por retirar as armas de milicianos não cooperativos.
Um grupo de países, liderado pelos EUA, estabeleceu um quartel-general no sul de Israel para lidar com a reconstrução, o desarmamento e o aumento da ajuda a Gaza. Eles agora aguardam instruções sobre como proceder. Enquanto isso, Israel ainda ocupa metade do enclave. Na outra metade, onde a grande maioria dos habitantes vive em condições precárias, o Hamas reforça sua autoridade com militantes armados.
Bin Salman deve se reunir com Trump na Casa Branca na terça-feira, com o futuro de Gaza e as relações com Israel no topo da agenda. A Arábia Saudita tem repetidamente afirmado que só poderá normalizar as relações com Israel quando houver um acordo sobre um Estado palestino.
Em seus comentários no domingo, Netanyahu também fez referência ao fato de que Israel deve realizar eleições dentro de um ano. Houve pedidos para uma votação antecipada, mas Netanyahu sugeriu o contrário, dizendo que presumia que a votação seria realizada no final do ano judaico, ou seja, em setembro.
Disparos contra agentes da ONU no Líbano
A Força Interina das Nações Unidas no Líbano (Unifil), os populares capacetes azuis da ONU, acusou neste domingo o Exército israelense de abrir fogo contra seus membros no sul do país, enquanto Israel afirmou que não disparou deliberadamente contra o contingente. O departamento da ONU trabalha com o Exército libanês na aplicação do acordo de cessar-fogo que pôs fim, em 27 de novembro de 2024, a mais de um ano de conflito entre o movimento pró-iraniano Hezbollah e Israel, incluindo dois meses de guerra aberta.
"Nesta manhã, o (Exército) israelense disparou contra soldados da paz da Unifil a partir de um tanque Merkava localizado próximo a uma posição estabelecida por Israel em território libanês", indicou a Unifil em comunicado, no qual especificou que os disparos passaram a cerca de cinco metros dos capacetes azuis.
A força da ONU especificou que houve tiros de armas pesadas perto dos soldados, que puderam abandonar o local sem perigo quando o tanque se retirou.
O Exército israelense declarou que os disparos não foram "deliberados" e que confundiu os capacetes azuis com "suspeitos".
Neste domingo, "dois suspeitos foram identificados na área de El Hamames, no sul do Líbano. As tropas dispararam tiros de advertência (…), [depois] viu-se que os suspeitos eram soldados da ONU realizando uma patrulha na região", declarou o Exército israelense, especificando que o incidente está sendo investigado. Após o incidente, a Unifil afirmou que os tiros "constituem uma violação grave da resolução 1701 do Conselho de Segurança das Nações Unidas", a decisão que pôs fim à guerra de 2006 entre Israel e Hezbollah.
Segundo essa resolução, que serviu de base para o acordo de cessar-fogo, apenas o Exército libanês e os capacetes azuis têm permissão para estar desdobrados no sul do Líbano, próximo à fronteira com Israel. A Unifil instou o "Exército israelense a cessar qualquer comportamento agressivo e qualquer ataque contra ou perto dos soldados da paz, que se esforçam para restabelecer a estabilidade que tanto Israel quanto o Líbano dizem buscar".
O Exército israelense ainda ocupa cinco posições no sul do Líbano e costuma realizar bombardeios em território libanês, apesar do acordo, em operações que afirma serem contra o Hezbollah. (Com AFP e Bloomberg)