Mulher de filósofo Noam Chomsky nega à TV que ele tenha intermediado suposta ligação telefônica entre Lula e Epstein
A linguista brasileira Valéria Chomsky disse à CNN Brasil que é “infundada e mentirosa” a alegação de que seu marido, o filósofo e escritor Noam Chomsky, teria mediado uma ligação entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o financista Jeffrey Epstein durante uma visita na sede da Polícia Federal, em Curitiba, em setembro de 2018. À época, o petista cumpria pena de prisão. A acusação aparece em um e-mail de Epstein revelado nesta semana pelo Congresso americano. Segundo Valéria, o filósofo — que sofreu um AVC em junho de 2023 — está impossibilitado de comentar o caso.
Desconforto republicano: Fracasso de força-tarefa para impedir voto sobre Epstein soa como alerta para Trump antes de ano eleitoral
Mudança de posição: Trump já prometeu divulgar arquivos de Epstein e sugeriu que financista foi morto; hoje, luta para escapar do caso
"Na qualidade de esposa de Noam Chomsky, participei com ele da visita, em 20 de setembro de 2018, ao presidente Lula na prisão. Esclareço que tivemos de deixar os aparelhos celulares na recepção e fomos revistados pela Polícia Federal antes de iniciar a visita", afirmou em nota à emissora, acrescentando que foi a intérprete da conversa entre Chomsky e Lula. "Qualquer alegação de que teria havido um telefonema, durante a visita ou em qualquer outra ocasião, entre o presidente Lula e qualquer interlocutor – intermediado por Noam Chomsky – é infundada e mentirosa".
Epstein, o bilionário americano que cometeu suicídio na cadeia em 2019 enquanto era investigado por abuso sexual de menores de idade e de chefiar uma rede de tráfico humano, afirmou em mensagens enviadas em 2018 e 2019 que manteve contato telefônico com o presidente Lula, e chamou o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro de "o cara". As menções às autoridades brasileiras apareceram em uma série de documentos divulgados pela Câmara dos EUA, em um momento em que o caso do magnata volta a repercutir na política americana, pressionando o presidente Donald Trump.
Em uma troca de mensagens em setembro de 2018, Epstein citou a conversa com o petista e fez o comentário positivo sobre Bolsonaro. A identidade do interlocutor das mensagens foi mantida em sigilo nos documentos. De acordo com o americano, o contato com o presidente brasileiro teria sido mediado pelo escritor e filósofo Noam Chomsky. A Secretaria de Comunicação da Presidência da República afirmou que a informação não procede e que a citada ligação telefônica "nunca aconteceu".
"Chomsky me ligou com Lula. Da prisão. Que mundo", escreveu Epstein na mensagem, enviada no dia 21 de setembro de 2018.
Initial plugin text
O remetente da mensagem respondeu ao bilionário poucos minutos depois, parecendo se referir às eleições brasileiras daquele ano: "Diga a ele que o meu cara vai ganhar no primeiro turno".
Epstein então comenta sobre alguma possível articulação naquele momento, referindo-se a uma "coletiva de imprensa" em que Lula teria enviado uma mensagem ao Partido dos Trabalhadores (PT) sobre a organização da militância. Sem resposta do interlocutor, Epstein elogia Bolsonaro.
"Bolsonara [sic] é o cara", escreveu Epstein, usando a expressão em inglês "the real deal". A pessoa com quem ele troca as mensagens repete o mesmo termo, aprovando a menção positiva ao então candidato, que venceria aquela eleição.
Pessoas do círculo do presidente também negaram o contato. Advogado de Lula na época da Lava Jato, Luiz Carlos Rocha afirmou ter acompanhado a visita de Chomsky ao petista, negando que tenha havido uma ligação telefônica. O advogado também afirmou que não era permitida a entrada de celulares na carceragem da PF. Por telefone, uma fonte da Secom também afirmou que Lula não tinha como fazer ligação preso, e que as visitas não podiam entrar com telefone para visitá-lo.
Outras menções aos brasileiros
Em uma troca de mensagens anterior, em agosto de 2018, Epstein já havia citado Bolsonaro. Ele diz a um interlocutor: "Re Bolsonaro/ se você está confiante em uma vitória, seria bom para a imagem que você fosse visto lá".
A pessoa com quem o financista troca mensagens escreve então que poderia estar no Brasil no sábado seguinte. Epstein então continua a conversa:
"Maravilhoso. Mais capítulos para o seu livro", disse, acrescentando posteriormente: "Miro acha mais seguro ir para o Brasil depois do segundo turno".
Em outra troca de mensagens, em fevereiro de 2019, Epstein volta a citar Lula e Bolsonaro. A conversa em questão começa por parte de um remetente que também teve o nome preservado, que pede ao americano que intermedeie um encontro com Chomsky.
"Sim, ele gostaria disso. A esposa dele é brasileira, então vá com calma em relação ao Bolsonaro. Eles são amigos do Lula. Mas ele é uma figura icônica, e você não deveria perder a chance de falar sobre história e política. Eu vou colocar vocês em contato por e-mail, assim podem se coordenar diretamente", escreveu Epstein.