O presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, intensificou nesta sexta-feira os ataques contra o Partido Democrata após a divulgação, dois dias antes, de e-mails do falecido criminoso sexual Jeffrey Epstein que sugerem que o republicano tinha conhecimento mais profundo do esquema de abuso e tráfico sexual operado pelo financista. Em uma aparente retaliação às revelações, Trump acusou democratas de “fabricarem uma farsa” e anunciou que pedirá uma investigação federal sobre o envolvimento do ex-presidente Bill Clinton, além do banco americano JPMorgan e figurões democratas, com Epstein, morto em 2019. Contexto: Acusado de abuso de menores, Epstein afirmou que Trump 'sabia das meninas' em e-mails divulgados pelo Congresso dos EUA Veja: Trump já prometeu divulgar arquivos de Epstein e sugeriu que financista foi morto; hoje, luta para escapar do caso Em sua plataforma Truth Social, Trump afirmou que a divulgação dos e-mails pela oposição na última quarta-feira provém de democratas que "estão fazendo tudo o que podem, com seu poder cada vez menor, para reacender a farsa sobre Epstein". Em contragolpe, o presidente afirmou que a secretária de Justiça dos EUA, Pam Bondi, e o FBI receberão ordens para apurar o “envolvimento e relacionamento” de Epstein com democratas influentes. Os e-mails sugerem que Trump teria “passado horas” na casa de Epstein com uma vítima do esquema e que “sabia das meninas”, segundo mensagens escritas pelo próprio financista em 2011. As mensagens sugeriam que o conhecimento de Trump sobre a rede de tráfico sexual do Epstein era mais profundo do que ele próprio vem afirmando desde quando o caso ganhou grande repercussão, em julho. Initial plugin text As revelações também elevaram a pressão sobre o governo Trump para que todos os arquivos do Departamento de Justiça referentes a Epstein sejam divulgados. Para conter o avanço do pedido na Câmara, Trump tentou sem sucesso convencer congressistas republicanos a barrar a iniciativa — que agora deverá ir a votação na próxima semana, com expectativa de aprovação. Donald Trump esteve em festas com Jeffrey Epstein Reprodução de cena / Netflix A ofensiva do presidente ocorre no momento mais agudo das disputas em torno do caso Epstein desde 2019, quando o milionário, segundo as investigações, cometeu suicídio em sua cela em Nova York. Desde então, democratas e parte dos republicanos pressionam pela liberação integral do dossiê federal. Trump, por sua vez, tenta redirecionar o foco para antigos aliados de Epstein no campo democrata, como Bill Clinton; Larry Summers, ex-secretário do Tesouro do governo de Barack Obama; e Reid Hoffman, fundador do LinkedIn e um grande doador do Partido Democrata. Ele também citou o banco JPMorgan, que pagou US$ 290 milhões (mais de R$ 1 bilão) para encerrar acusações de que teria ignorado sinais de alerta enquanto Epstein era cliente. “Este é mais um golpe da Rússia, Rússia, Rússia, com todas as evidências apontando para os democratas”, escreveu o presidente americano. “Os registros mostram que esses homens, e muitos outros, passaram grande parte de suas vidas com Epstein e em sua ‘ilha’. Fiquem ligados!!!”. E-mails de Epstein: Ex-príncipe e ex-embaixador britânicos surgem em arquivos Apesar das menções, não há provas credíveis de que Clinton, Summers ou Hoffman tenham participado do esquema de tráfico sexual. Todos negam qualquer envolvimento criminal — embora admitam, em maior ou menor grau, terem se relacionado com Epstein no passado. Pressão no Congresso A divulgação dos e-mails, feita pelos democratas, colocou Trump em posição defensiva. No início da semana, a Casa Branca chegou a convocar uma reunião na Sala de Crise com líderes republicanos para tentar barrar a votação que obrigaria o Departamento de Justiça a divulgar os documentos. A estratégia não funcionou. Se a Câmara aprovar o texto semana que vem, o Senado também precisará votar uma versão semelhante — e Trump terá de sancionar a medida, caso passe. De fato, os democratas — atualmente na oposição e em minoria no Congresso — querem, agora, que todo o dossiê sobre o caso seja tornado público. Mas, há meses, o FBI e o Departamento de Justiça anunciam que, após uma investigação interna, nenhum material adicional poderia ser divulgado sem comprometer testemunhas-chave envolvidas no julgamento que condenou Epstein. Initial plugin text Aliados de Trump defendem que a divulgação dos e-mails faz parte de um esforço para prejudicar o presidente, enquanto críticos lembram que o republicano conviveu com Epstein durante anos antes de romper a amizade nos anos 2000, após um episódio envolvendo uma funcionária do spa de Mar-a-Lago. Trump — que prometeu grandes revelações durante sua campanha sobre o escândalo Epstein — considera que essa pressão dos democratas no Congresso, com a publicação dos e-mails, faz parte de uma campanha política semelhante à que o acusou de manter vínculos ilegais com a Rússia durante a campanha eleitoral de 2016. Tentando afastar-se novamente do fantasma político de Epstein, Trump argumentou no Truth Social que o milionário era “um problema dos democratas”. Figura conhecida da vida social nova-iorquina, Epstein “era democrata”, escreveu o republicano. Os alvos de Trump Além de Clinton, que conviveu com Epstein no início dos anos 2000, Trump disse ter pedido ao Departamento de Justiça que investigasse Summers e Hoffman. Os dois homens foram mencionados nos 20 mil documentos relacionados a Epstein divulgados na quarta-feira pelo Comitê de Supervisão da Câmara. Entre os alvos de Trump, também está o banco americano JPMorgan. Segundo a agência Reuters, em 2023, o banco pagou um valor bilionário a algumas das vítimas de Epstein para encerrar as acusações de que teria ignorado seu esquema de tráfico sexual. O acordo veio após revelações constrangedoras de que o JPMorgan ignorou alertas internos e negligenciou sinais de alerta sobre Epstein, que foi cliente do banco entre 1998 e 2013. O banco, por sua vez, não admitiu culpa no acordo. Desconforto republicano: Fracasso de força-tarefa para impedir voto sobre Epstein soa como alerta para Trump antes de ano eleitoral Clinton voou no jato particular de Epstein diversas vezes antes da condenação do financista em 2008, enquanto Summers aceitou doações filantrópicas de Epstein quando era presidente da Universidade de Harvard. Já Hoffman admitiu ter se encontrado com Epstein várias vezes em situações profissionais. Ele visitou a ilha particular de Epstein no Caribe durante um fim de semana, de acordo com e-mails e agendas divulgados anteriormente. Hoffman, por sua vez, afirmou que se encontrou com Epstein para arrecadar fundos para o Instituto de Tecnologia de Massachusetts. Mas diz se arrepender de suas interações com Epstein. Além disso, uma série de trocas de mensagens entre Epstein e Summers, que demonstram uma relação de confidentes, veio à tona entre os e-mails divulgados pelos republicanos, após a revelação dos democratas na última quarta. As trocas de mensagens, de 2013 ao início de 2019, mostraram os dois homens compartilhando opiniões pessoais – e às vezes impróprias – sobre política e relacionamentos. Após o Wall Street Journal ter revelado uma série anterior de e-mails entre Epstein e Summers em uma reportagem de 2023, um porta-voz do ex-tesoureiro disse ao jornal americano que ele "lamenta profundamente ter entrado em contato com Epstein após sua condenação". — É extremamente inapropriado que o presidente dê ordens ao Departamento de Justiça para investigar cidadãos americanos individualmente — afirmou Patrick Cotter, ex-procurador federal que agora trabalha no escritório de advocacia UB Greensfelder, em entrevista à Reuters. — Não é assim que deveria funcionar. (Com AFP e The New York Times)

Supremo formou maioria para tornar deputado réu sob acusação de coação ao atuar nos EUA

Inspeção de órgão realizada no dia 6 aponta superlotação e colchões no chão para presos comuns