Epstein chamou Bolsonaro de 'o cara' e citou ligação telefônica com Lula em mensagens divulgados pela Câmara dos EUA
O bilionário americano Jeffrey Epstein, que cometeu suicídio na cadeia em 2019 enquanto era investigado por abuso sexual de menores de idade e de chefiar uma rede de tráfico humano, afirmou em mensagens enviados em 2018 e 2019 que manteve contato telefônico com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva — à época preso na sede da Polícia Federal, em Curitiba —, e chamou o então candidato à Presidência Jair Bolsonaro de "o cara". A menção às autoridades brasileiras apareceram em uma série de documentos divulgados pela Câmara dos EUA, em um momento em que o caso do magnata volta a repercutir na política americana, pressionando o presidente Donald Trump.
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Em uma troca de mensagens em setembro de 2018, Epstein citou a conversa com o petista e fez o comentário positivo sobre Bolsonaro. A identidade do interlocutor das mensagens foi mantida em sigilo nos documentos. De acordo com o americano, o contato com o presidente brasileiro teria sido mediado pelo escritor e filósofo Noam Chomsky. A Secretária de Comunicação da Presidência da República afirmou que a informação não procede e que a citada ligação telefônica "nunca aconteceu".
"Chomsky me ligou com Lula. Da prisão. Que mundo", escreveu Epstein na mensagem, enviada no dia 21 de setembro de 2018.
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O remetente da mensagem respondeu o bilionário poucos minutos depois, parecendo se referir às eleições brasileiras daquele ano: "Diga a ele que o meu cara vai ganhar no primeiro turno".
Epstein responde comentando sobre alguma possível articulação naquele momento, referindo-se a uma "coletiva de imprensa" em que Lula teria enviado uma mensagem ao Partido dos Trabalhadores (PT) sobre a organização da militância. Sem resposta do interlocutor, Epstein elogia Bolsonaro.
"Bolsonara [sic] é o cara", escreveu Epstein, usando a expressão em inglês "the real deal". A pessoa com quem ele troca as mensagens repete o mesmo termo, aprovando a menção positiva ao então candidato, que venceria aquela eleição.
Pessoas do círculo do presidente também rejeitaram o contato. Advogado de Lula na época da Lava Jato, Luiz Carlos Rocha afirmou ter acompanhado a visita de Chomsky ao petista, rejeitando que tenha havido uma ligação telefônica. O advogado também afirmou que não era permitida a entrada de celulares na carceragem da PF. Por telefone, uma fonte da Secom também afirmou que Lula não tinha como fazer ligação preso, e que as visitas não podiam entrar com telefone para visitá-lo.
Outras menções aos brasileiros
Em uma troca de mensagens anterior, em agosto de 2018, Epstein já havia citado Bolsonaro. Ele diz a um interlocutor: "Re Bolsonaro/ se você está confiante em uma vitória, seria bom para a imagem que você fosse visto lá".
A pessoa com quem o financista troca mensagens escreve então que poderia estar no Brasil no sábado seguinte. Epstein então continua a conversa:
"Maravilhoso. Mais capítulos para o seu livro", disse, acrescentando posteriormente: "Miro acha mais seguro ir para o Brasil depois do segundo turno".
Em outra troca de mensagens, em fevereiro de 2019, Epstein volta a citar Lula e Bolsonaro. A conversa em questão começa por parte de um remetente que também teve o nome preservado, que pede ao americano que intermedeie um encontro com Chomsky.
"Sim, ele gostaria disso. A esposa dele é brasileira, então vá com calma em relação ao Bolsonaro. Eles são amigos do Lula. Mas ele é uma figura icônica, e você não deveria perder a chance de falar sobre história e política. Eu vou colocar vocês em contato por e-mail, assim podem se coordenar diretamente", escreveu Epstein.