Crise da hospedagem na COP30 pode obrigar participantes da conferência a dividir cama em Belém
Em meio a crise de hospedagens causada pelo alto custo da estadia durante a COP30, em Belém (PA), as plataformas de reserva criadas pelo Governo Federal indicam que os participantes podem precisar dividir as mesmas camas enquanto permanecerem na conferência. Tanto em apartamentos e hotéis, quanto nos navios de cruzeiro disponibilizados para acomodação, reservas para até quatro pessoas, por exemplo, descrevem possuir somente duas camas de casal, o que indica a necessidade de compartilhamento.
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Em uma publicação nas redes sociais, nesta semana, o jornalista Mike Szabo, cofundador da Carbon Pulse — site britânico de informações sobre precificação de carbono e mudanças climáticas —, se queixou da condição. Ele afirma que, ao tentar efetuar as reservas da delegação de sua plataforma, constatou que não há leitos individuais suficientes para a quantidade de quartos ofertada.
"Tudo isso, provavelmente, irritará ainda mais os possíveis participantes, incluindo grandes delegações governamentais que deixaram bem claro que seus funcionários não compartilharão quartos, muito menos camas", escreveu.
Em uma rápida pesquisa na plataforma de hotéis, ainda é possível encontrar 753 resultados para hospedagens disponíveis. Com capacidade para até quatro pessoas, por exemplo, são 340. Do total encontrado, contudo, apenas 56 contam com quatro quartos ou mais. Há filtro de buscas para quantidade de quartos e banheiros, mas não há para quantidade de camas. A constatação de que há menos camas do que o número máximo de ocupantes é possível ser feita pelas próprias fotos disponibilizadas por cada local.
— Nas reservas dos apartamentos da COP30, você pode ver que, em muitos deles, eles listam "pode acomodar 4 pessoas", mas nas fotos também há apenas 2 camas — constatou Szabo ao GLOBO.
No site voltado para as acomodações em cruzeiros — Costa Diadema e MSC Seaview —, ofertadas pela organização da COP30 em parceria com a plataforma Qualitours, é possível encontrar acomodações do mesmo estilo. A cabine externa mais barata de um dos navios tem como descrição comportar "de 1 a 4 pessoas" e, ao mesmo tempo, ter disponível um "leito de casal ou dois leitos lado a lado".
Cabine Externa do navio Costa Diadema comercializado para a COP30
Reprodução/cop30.qualitours
Procurada a Qualitours afirmou que as acomodações do Costa Diadema e do MSC Seaview "mantêm exatamente a mesma configuração adotada rotineiramente pelos navios em qualquer operação de cruzeiro no mundo. Não houve qualquer alteração de layout, capacidade ou formato de hospedagem para o evento, e o modelo não está relacionado a questões de oferta ou demanda específicas da COP30". A empresa afirma ainda ter adotado uma "política comercial mais vantajosa para o público", e o valor da diária será o mesmo independentemente do número de ocupantes da cabine.
"Nas cabines múltiplas (triplas ou quádruplas), a acomodação pode incluir camas de casal ou solteiro lado a lado, sofás-camas ou camas suspensas recolhidas ao teto, uma configuração padrão no segmento de cruzeiros e comparável à hotelaria, onde apartamentos quádruplos, por exemplo, costumam contar com duas camas de casal compartilhadas. Essa informação é sempre disponibilizada ao cliente no momento da cotação e da reserva, garantindo transparência sobre a forma de acomodação. A acomodação (single, dupla, quádrupla) é uma escolha do cliente", acrescenta a empresa na nota.
Número de leitos
No dia 1° de agosto, a organização da COP30 divulgou um comunicado em que afirma ter 53.003 leitos disponíveis para acomodar o público esperado de cerca de 50 mil pessoas. São 14.547 em hotéis; 6 mil em navios; 10.004 residências "via imobiliárias"; e 22.452 disponíveis na plataforma Airbnb.
"A iniciativa de hospedagem nos navios assegura a oferta de aproximadamente 3.900 cabines com capacidade de até 6 mil leitos. Portanto, a oferta é por cabine", informou a organização da conferência ao GLOBO.
Na última quarta-feira, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis do Pará (ABIH-PA), Antônio Santiago, afirmou que a crise das hospedagens estaria resolvida caso integrantes das delegações aceitassem dividir quartos.
— Nós falamos que a hotelaria tem em torno de 22 mil leitos. Mas os participantes nao dividem quartos, então o número virou 6.500 apartamentos. Precisaríamos de pelo menos mais 6 mil quartos. A situação estaria resolvida se as pessoas não ficassem sozinhas nos apartamentos, mas, com essa exigência, não podemos fazer nada — disse.
Procuradas, a Bnetwork — que organiza a plataforma de hotéis e apartamentos em parceria com a conferência — ainda não respondeu. O espaço segue aberto.