Ramagem liga para ‘se desculpar’ por não ter avisado de fuga para os EUA, diz líder do PL
O deputado federal Alexandre Ramagem (PL-RJ) telefonou na noite de segunda-feira para o líder do PL na Câmara, deputado Sóstenes Cavalcante (RJ), para “pedir desculpas” por não ter avisado previamente que deixaria o Brasil rumo aos Estados Unidos, onde hoje é considerado foragido pela Justiça brasileira. Do exterior, Ramagem também fez ligações para outros colegas de bancada.
Segundo Sostenes, a ligação ocorreu somente depois de Ramagem já estar em solo americano. No telefonema, o ex-diretor da Abin teria pedido que ele repassasse o pedido de desculpas aos demais integrantes da bancada.
— Ele me ligou para pedir desculpas por não ter avisado e pediu que eu também pedisse desculpas à bancada — disse Sostenes. — Eu respondi que não havia do que se desculpar, porque ele estava “lutando pela própria vida— disse Sóstenes ao GLOBO.
Questionado pela reportagem sobre como não havia percebido a ausência do colega, Sostenes respondeu que não há presença integral de deputados em todas as reuniões e que grande parte das interações internas ocorre por participação remota. Sobre o atestado, afirmou que essa comunicação é tratada diretamente entre o parlamentar e a Câmara, sem passar pela liderança.
Deputados do PL relataram ao GLOBO que, entre a noite de domingo e segunda-feira, Ramagem fez uma série de videochamadas para colegas da bancada para se desculpar por ter despistado aliados sobre seu paradeiro nos últimos dias. Segundo esses parlamentares, ele vinha mantendo a todos na impressão de que estava em Brasília, respondendo mensagens como se acompanhasse as articulações de perto — quando, na verdade, já estava fora do país há pelo menos um mês.
As ligações, descritas como “constrangidas” por um interlocutor, foram interpretadas como uma tentativa de Ramagem de reduzir o mal-estar interno provocado pela revelação de que ele havia viajado sem comunicar seus correligionários. Parlamentares receberam a iniciativa com surpresa, atendendo as chamadas em lugares públicos, uma vez que a maioria estava em trânsito entre seus redutos eleitorais e Brasília.
A saída do país ocorreu no contexto do agravamento da situação jurídica do deputado. Segundo a coluna do Anselmo, Ramagem foi diagnosticado, em setembro, com “ansiedade generalizada, com a recomendação de afastamento por 30 dias. O documento foi emitido dois dias antes de o Supremo Tribunal Federal (STF) anunciar a condenação do deputado a 16 anos de prisão por tentativa de golpe de Estado.
Na mesma data, a Câmara confirmou ter recebido um atestado, mas não foi informada de qualquer viagem ao exterior, apesar de a Polícia Federal investigar se Ramagem deixou o país de forma clandestina rumo aos EUA.
A condição médica também foi anexada a um processo movido por sua mulher, Rebeca Teixeira Ramagem, contra a companhia aérea TAP. Ela afirma que o casal tinha viagem marcada para Portugal entre 18 e 28 de setembro e que a ida teria sido cancelada pela condição clínica do deputado. Rebeca pede ressarcimento em dobro pelo valor das passagens e indenização por danos morais.
A permanência de Ramagem nos Estados Unidos e a falta de comunicação formal aprofundaram o desconforto dentro da bancada. Auxiliares relatam que a ligação para pedir desculpas foi a primeira informação oficial recebida pelos colegas desde a saída do país.
A Câmara não informou se abrirá procedimento para avaliar o cumprimento das obrigações parlamentares durante o período de afastamento.