Pauta bomba de Alcolumbre ao estilo de Eduardo Cunha
Duas horas depois da indicação do advogado-geral da União, Jorge Messias, para a cadeira vaga no Supremo Tribunal Federal, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre, anunciou que vai pautar um projeto que regulamenta as aposentadorias de agentes de Saúde. Aprovado, será um tiro de bilhões nas contas do governo. Segundo o deputado Antonio Brito, relator do projeto, serão gastos R$ 5 bilhões federais até 2030. Já a Confederação Nacional de Municípios estima que sejam R$ 21,2 bilhões municipais.
Sem tirar nem pôr, é uma pauta-bomba, ao estilo de Eduardo Cunha detonando Dilma Rousseff. Alcolumbre e muitos senadores foram contrariados com a escolha de Jorge Messias para o STF. Jogando pelas regras, o Senado pode rejeitá-lo. Se não der, pode escolher uma outra vítima, expondo sua insatisfação. Pauta-bomba, gerando despesas, é teatro ou, na pior das hipóteses, jogo sujo. Eduardo Cunha jogou-o em 2015 e quebrou as pernas de Dilma. Por outros motivos, acabou na cadeia, até que em 2023 o STF aliviou-o.
Alcolumbre e alguns senadores queriam a indicação de Rodrigo Pacheco, ex-presidente da Casa. Não deu, paciência.
O gesto de Alcolumbre tisna a pauta do Senado dando-lhe um cheiro de arma de conveniência.
Resta outro cenário. A pauta-bomba de Alcolumbre seria teatral, esperando que o Planalto lhe peça um refresco. Nesse caso, seria teatro de segunda.
Faria Lima Brega
Daniel Vorcaro entrou pela porta dos fundos na história das fraudes financeiras de Pindorama. Pela porta da frente, ele se tornou um modelo do estilo Faria Lima Brega, variante rica do Pobre-Chique.
Lá atrás, Steve Jobs, criador da Apple, inovou com seu estilo esportivo. Bilionário, como Bill Gates, não tinha diploma universitário, vestia jeans e camiseta. Esse modelo azedou em 2015, com a jovem bilionária Elizabeth Holmes, criadora da empresa de análises clínicas Theranos. Ela tinha abandonado a universidade de Stanford, vestia jeans e camiseta, mas era uma vigarista. Está na cadeia, ralando uma pena de 11 anos.
Marombado, Vorcaro tinha uma pequena academia no prédio do Master. Quase sempre de roupa esporte, mantinha jatos no hangar de Guarulhos e casa na praia de Trancoso. Namora uma empresária que vende produtos para retardar o envelhecimento.
Banqueiros podem ter estilo. Amador Aguiar (1904-1991), criador do Bradesco, não usava meias. Já seu rival, Walther Moreira Salles, criador do Unibanco e pai do cineasta, vestia-se com raro apuro.
COP do incêndio
A COP30 poderia ter sido a reunião dos avanços ou a da criação do fundo das florestas. Será a COP do incêndio. E não foi por falta de aviso.
Eremildo na COP
Eremildo é um idiota e encantou-se com a fala do ministro do Turismo, Celso Sabino, em Belém, quando ainda se sentia o cheiro do incêndio: “Isso poderia acontecer em qualquer lugar do planeta”.
(Inclusive na casa do doutor, mas aconteceu num pavilhão da COP.)
Bandidos
Admitindo-se que cada um dos 121 “suspeitos” vitimados na matança da Penha fosse um bandido que movia R$ 1 milhão por ano, aqueles perigosos cidadãos traficavam R$ 1,21 bilhão por ano.
Numa de suas tacadas, o banco Master, de Daniel Vorcaro, enfiou R$ 2,6 bilhões de papéis podres na Rioprevidência.
O governo de Cláudio Castro pode se orgulhar de sua boa pontaria.
Farofas ilustres
As farofas de alguns ministros do Supremo Tribunal Federal cobraram seu preço com a liquidação do banco Master.
O professor Conrado Hübner Mendes listou eventos patrocinados pela plutofilantropia de Daniel Vorcaro. Tudo no circuito Elizabeth Arden:
“Em 2022, no Lide Brazil Conference, de Nova York, Vorcaro financiou jantar de gala para os ministros Gilmar Mendes, Luís Roberto Barroso, Alexandre de Moraes, Ricardo Lewandowski e mais dezenas de pessoas. O Banco Master não estava anunciado como patrocinador oficial, mas havia dinheiro de Vorcaro.”
Em 2023, no 1º Fórum Esfera Internacional, realizado em Paris, na presença de Barroso e Gilmar, Vorcaro elogiou o STF como “guardião da democracia”.
Em 2024, no 2º Fórum Esfera Internacional, ali perto em Roma, com Toffoli, Lewandowski, Barroso (...) no recinto, Vorcaro palestrou e alertou que o governo precisava resolver o “buraco das contas públicas”.
“Em 2024, em Londres, por ocasião do Fórum Jurídico Brasil de Ideias, organizado pelo Grupo Voto com patrocínio do Banco Master, Gilmar, Moraes, Toffoli e Lewandowski ofereceram suas próprias ideias a esse fórum de ideias do encontro lobístico.”
Vale listar os ministros do STF que não foram a essas farofas: Edson Fachin, atual presidente da Corte, Cármen Lúcia, Luiz Fux, Cristiano Zanin, André Mendonça e Nunes Marques.
Esnobismo
O andar de cima da Inglaterra gosta de Kate Middleton. Mas ainda não digeriu sua origem plebeia, quase proletária. Filha de um casal que trabalhou para viver e neta de uma mulher obstinada, a princesa de Gales teve um ascendente preso, talvez por dívidas. Outro trabalhou como estucador.
A emissora BBC desculpou-se porque numa cerimônia à qual ela compareceu, a apresentadora Rajini Vaidyanathan referiu-se a Kate Middleton (seu nome de solteira) e não como Princesa de Gales (seu título de casada). A certa altura a apresentadora mencionou “Catherine e a rainha”.
Se esse critério prevalecesse, a rainha deveria ser chamada de Camila Shand (seu nome de solteira) ou Parker Bowles (seu nome de casada, quando já namorava Charles.)
União desunida
A federação que soldaria o Partido Progressista ao União Brasil subiu no telhado.
Estrela que sobe
A decisão do governo americano de retirar a tarifa de 40% sobre alguns produtos brasileiros mostrou a eficácia da diplomacia profissional, encarnada hoje pelo chanceler brasileiro, Mauro Vieira. Ele e Lula costuraram em silêncio.
Como as negociações continuarão, o pior que pode acontecer é a entrada em cena do coral da vitória.