Crédito consignado para trabalhadores da iniciativa privada vai evitar o superendividamento, diz Haddad
Ministro diz que Banco Central tem que fazer seu trabalho, mas governo precisa melhorar ambiente microeconômico O projeto de consignado para trabalhadores do setor privado vai evitar o superendividamento das famílias, disse o ministro da Economia, Fernando Haddad, nesta segunda-feira (dia 24). Segundo ele, no entanto, isso nada tem a ver com a conjuntura econômica. Para ele, é papel do governo melhorar o ambiente microeconômico.
Economistas têm criticado a postura do governo de estimular o consumo com medidas como o novo consignado e a isenção de Imposto de Renda para quem ganha até R$ 5 mil enquanto o Banco Central vai na direção contrária, subindo juros para inibir a atividade econômica e conter a alta da inflação.
— É um projeto que vinha sendo desenvolvido há mais de um ano para que o celetista tenha os mesmos direitos do servidor público. O consignado privado é uma medida estrutural e não tem a ver com conjuntura — disse o ministro da Economia.
Haddad participou do evento "Rumos 2025", realizado pelo jornal Valor Econômico, em que políticos, economistas e especialistas em geopolítica e clima discutem os caminhos para o desenvolvimento do Brasil. O seminário ocorre no Hotel Rosewood, em São Paulo.
Alternativa
O ministro afirmou que não se pode usar como pretexto o fato de que o país está com uma inflação que saiu da banda para deixar de colocar o novo consignado em uso. Ele disse que o novo produto será uma alternativa às taxas de juros agressivas que o consumidor que toma empréstimos sem garantia é submetido, evitando o superendividamento.
— O Banco Central faz o trabalho dele e nós criamos condições microeconômicas mais favoráveis — disse Haddad, lembrando que o atual consignado para trabalhadores da iniciativa privada não permite portabilidade e depende de um acordo entre o banco e a empresa para que as prestações sejam descontadas na folha de pagamento.
— A parte interessada, que é o empregado, não participa dessa parte.
Haddad afirmou em relação às contas públicas brasileiras que 'se pode analisá-las no atacado e no varejo'. No varejo, disse, há erros de todos os governo é impossível cercar tudo. No atacado, Haddad citou os gastos tributários no Brasil, que saltaram de 2% para 6% do Produto Interno Bruto (PIB), triplicando em pouco mais de 20 anos.
— Houve um porção de jabutis. Iniciativas de governos que não foram revertidas que fizeram os gastos tributários aumentar absurdamente no país — disse.
Ele afirmou que o governo vai continuar perseguindo a meta de déficit zero e lembrou que no ano passado o governo surpreendeu ao obter déficit primário de 0,09% do PIB.
Defesa do arcabouço
Haddad defendeu durante sua participação no evento do Valor a chamada "arquitetura" do arcabouço fiscal, mas admitiu que os parâmetros desse mecanismo podem ser alterados.
— Penso que todo mundo considera essa arquitetura robusta. Mas ninguém discorda de que vai ter de fazer ajuste da máquina. Você está pilotando um carro, você não vai até seu destino sem parar numa mecânica, no posto, você vai ter de fazer reparos na máquina para ela andar bem. Mas penso que do ponto de vista da arquitetura estou confortável com o modelo atual — afirmou.
O ministro disse que há diferentes níveis diferentes de debates sobre o arcabouço. Um deles, da regra, da arquitetura em si. O outro debate se refere aos parâmetros para essas regras.
— Quando tivermos estabilidade da dívida/PIB, uma Selic mais comportada, inflação mais comportada, você vai poder mudar os parâmetros do arcabouço. Mas, na minha opinião, não deveríamos mudar a arquitetura — afirmou.
E complementou:
— Quando você fala que tem de mudar tudo ou não tem de mudar nada, confunde um pouco o debate. Do ponto de vista da arquitetura, que é regra de gasto e meta de primário, eu acho que o arcabouço funciona. Ah, mas qual a meta de primário? Qual o parâmetro de gasto? Isso você pode ajustar, não vai estar ferindo o princípio geral. Um problema é de arquitetura, outro, de engenharia — afirmou.
Após as declarações do ministro, o dólar subiu , chegando a superar os 0,7% de avanço da abertura, mas diminuiu o ímpeto após Haddad ir à rede social X explicar suas declarações. Às 10h30, o dólar subia 0,3%, aos R$ 5,73.
Na publicação, o ministro afirmou que estariam “tentando distorcer” sua fala, afirmando que “gosta da arquitetura do arcabouço fiscal”, “que está confortável com os seus atuais parâmetros” e “que defende reforçá-los com medidas como as do ano passado”.
Ele reafirmou “que os parâmetros podem até mudar, se as circunstâncias mudarem”, mas que defende o cumprimento das metas que foram estabelecidas pelo atual governo.