Alvo de operação, rede enviava 'cogumelos mágicos' pelos Correios e ocultava com 'dropshipping'; kg valia R$ 9,2 mil
Investigações da Polícia Civil do Distrito Federal (PC-DF) mostram que uma rede criminosa especializada na venda de cogumelos alucinógenos para todo o país negociava o quilo da droga psilocibina a preços que variavam de R$ 84,99, por três gramas, a R$ 9,2 mil, por um quilograma. Os produtos eram promovidos nas redes sociais e também em feiras e eventos, no que investigadores classificaram como uma "estratégia ousada".
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Segundo os investigadores, as drogas eram remetidas pelos Correios e por empresas de logística em um esquema semelhante ao "dropshipping" — em que pedidos feitos a uma companhia eram enviados por outra com o objetivo de dificultar a fiscalização e o rastreio dos produtos. A PC-DF afirmou que foram identificadas 3.718 encomendas de um total de cerca de uma tonelada e meia de drogas.
— Eles usavam esse sistema de dropshipping, que eles remetiam de outros estados para os clientes finais. O pessoal de Brasília vendia para todo o país, o pessoal do Paraná vendia para todo o país, e o de SP. Quando não tinham estoques, usavam o dos outros — explicou à imprensa o delegado Waldek Cavalcante.
O grupo também é investigado por crimes ambientais, contra a saúde pública e por lavagem de dinheiro. A rede é acusada de utilizar empresas de fachada do ramo de alimentos para ocultar a origem ilícita do dinheiro obtido na venda das drogas.
"Os envolvidos poderão responder por tráfico de drogas qualificado, lavagem de dinheiro, associação criminosa, crimes ambientais, crimes contra a saúde pública, publicidade abusiva e curandeirismo. As penas aplicáveis podem chegar a 53 anos de reclusão para os líderes da organização", acrescenta a nota da Polícia Civil do DF.
Operação Psicose
A rede foi alvo nesta quinta-feira da Operação Psicose. Agentes saíram às ruas para cumprir nove mandados de prisão e outros 19 de busca e apreensão em endereços ligados ao grupo. Durante as diligências, os policiais encontraram locais de cultivo e identificaram colaborações ilícitas de agentes públicos que favoreciam a continuidade das atividades criminosas.
Operação mira rede que fabricava 'cogumelos mágicos' em larga escala
As apurações indicaram que páginas no Instagram eram utilizadas para atrair interessados, incluindo consumidores e traficantes, que depois eram direcionados a sites e grupos de aplicativos de mensagens para negociar a compra dos alucinógenos. O delegado Waldek Cavalcante disse que a rede foi descoberta a partir do monitoramento de perfis da capital federal.
— Já tínhamos outras investigações sobre cogumelos alucinógenos e, no começo do ano, tivemos novas informações pelo monitoramento de perfis do Instagram. Chegamos ao grupo de Brasília que estava produzindo psilocibina e, aprofundado a apuração, a produtores de outros estados, como Paraná, Santa Catarina e São Paulo. Eles formaram um emaranhado, um grupo de cooperação, uma verdadeira rede criminosa nacional para se difundia para todos os estados — disse Cavalcante.
O delegado destacou que a organização criminosa mirava em especial a clientela mais jovem, frequentadora de festas e festivais de música eletrônica. Para isso, investia "pesadamente" em marketing digital, com sites "de apelo visual" e parcerias com influenciadores e DJs.
— Essas drogas têm sido muito utilizadas nesses festivais de música eletrônica substituindo outras drogas sintéticas. Então eles buscavam DJs, influenciadores digitais e até mesmo pagavam reportagens favoráveis ao consumo dessas drogas. Eles traziam narrativa científica de benefícios à saúde buscando aumentar a venda e até tentar a criação de um ambiente favorável para a legalização. Mas é uma droga com vários efeitos nocivos, como possíveis mortes por overdose e surtos pela falsa realidade que se produz a partir do consumo — disse Cavalcante.
Operação mira rede que produzia alucinógenos em larga escala
Divulgação/PCDF
O investigador destacou a necessidade, para além da atuação policial, da implementação de políticas públicas para reduzir o consumo de substâncias ilícitas — não só pela sobrecarga da saúde pública, mas também pelo efeito do consumo de fortalecer o crime organizado. A Operação Psicose contou com a colaboração de autoridades de sete estados. As diligências vão continuar para identificar outros envolvidos, incluindo outras empresas e influenciadores que tenham colaborado.
— Esse grupo tem um emaranhado de empresas que colaborava. Solicitamos ao Judiciário o sequestro de quase R$ 250 milhões, o que foi deferido. Mas haverá outras fases e a análise de dados que não chegaram a nós ainda. Todos aqueles que colaboraram com o crime respondem por ele também. Estamos remetendo informações para polícias de outros estados e vamos em busca de todos que colaboraram, seja de qual ambiente forem — disse Cavalcante.