Aliados veem discurso de 'desânimo' de Tarcísio como estratégia para estancar desgastes e pressões
Ainda favorito para representar a direita na corrida presidencial de 2026, Tarcísio de Freitas (Republicanos) tem dito a interlocutores que anda "desanimado" com essa perspectiva. Após ser alvo de críticas pelo discurso radicalizado do 7 de Setembro e pela articulação em prol da anistia em Brasília, o governador de São Paulo reduziu a exposição pública, reafirmou que planeja disputar a reeleição no estado e passou a repetir nos bastidores a tese do "cansaço". Para aliados, porém, o recuo é estratégico e visa estancar os ataques — que partem tanto do bolsonarismo como da esquerda.
O GLOBO conversou com um parlamentar federal do PL que esteve recentemente no Palácio dos Bandeirantes. Segundo ele, Tarcísio está mesmo "de saco cheio" com as pressões que vem recebendo não só de Eduardo Bolsonaro, mas também "das vozes conflitantes da direita que veem apenas os próprios interesses", de forma que deve mesmo mudar de postura e focar nas agendas locais.
Ao mesmo tempo, um secretário com gabinete próximo ao do governador nos Bandeirantes vê a mudança de postura como uma estratégia para sair dos holofotes da corrida presidencial e "deixar as coisas correrem naturalmente". Para o aliado, o governador "já se desgastou demais com o episódio do tarifaço" e, de agora em diante, vai evitar os debates nacionais e focar em São Paulo. Se for "convocado" para disputar a Presidência mais à frente, poderá concorrer com o discurso de "missão a ser cumprida".
A exceção ocorrerá na segunda-feira (29), quando Tarcísio embarca para Brasília com o objetivo de visitar o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), em prisão domiciliar preventiva por determinação do ministro Alexandre de Moraes, do STF. O encontro foi autorizado pelo magistrado e deverá ocorrer no horário comercial. Por ora, segundo aliados de Tarcísio, não estão previstas agendas com outros políticos da capital federal e o governador deve retornar no mesmo dia. "Será um bate-e-volta", diz um assessor próximo.
Um cacique do Centrão, ouvido sob reserva, reconhece que situações surgidas após Tarcísio abraçar pautas nacionais e adotar um discurso presidenciável geraram desconforto ao governador:
– Essa instabilidade da família Bolsonaro gera desgaste, uma hora o Eduardo fala uma coisa, outra hora é o Flávio... Isso atrapalha muito.
Ao mesmo tempo, ele acredita que a decisão sobre disputar ou não a Presidência não caberá exclusivamente ao governador paulista.
— Se o Bolsonaro apoiar o Tarcísio, ele será candidato a presidente e ponto final – afirma.
Em paralelo, secretários e aliados de Tarcísio tentam convencê-lo a apostar na reeleição estadual e intensificam uma campanha pelo "fico" do governador. Um deles enumera uma série de ações e obras que só dariam retorno em um eventual segundo mandato, como o término do Rodoanel, linhas de metrô e trem e a mudança da sede administrativa para o bairro dos Campos Elísios, uma promessa de campanha e bandeira da gestão atual. De acordo com a fonte, se Tarcísio deixar o estado para concorrer ao Planalto "não haverá legado nenhum".
Outro secretário que também é entusiasta da reeleição afirma que as falas duras contra o STF no 7 de Setembro saíram do "tom habitual" de Tarcísio e o fizeram "recalcular a rota" para considerar que uma reeleição "mais tranquila" seria a via natural das coisas. Dessa forma, o governador teria mais quatro anos para preparar o caminho ao Planalto, além do fato de "não precisar mais ficar tão dependente do bolsonarismo". Para ele, porém, a "bolsa de apostas continua favorável à corrida presidencial", mas os patamares não são os mesmos de antes de 7 de Setembro.
O secretário de Governo e Relações Institucionais, Gilberto Kassab, afirmou nesta sexta-feira (26) que tem ouvido de Tarcísio que ele poderá ser candidato à reeleição, e diz que seu partido apoiará qualquer situação. Kassab tem na manga a possibilidade de ver Ratinho Junior, correligionário dele no PSD, ocupar o posto de presidenciável no caso de uma desistência de Tarcísio.
– Tarcísio está fazendo uma excelente gestão à frente do governo de São Paulo. Ele tem todas as condições para ser um bom candidato à Presidência da República, um bom presidente. E, se for candidato, terá o nosso apoio. Posso falar pelo PSD, não posso falar por outros partidos (...) Da nossa parte, tem o nosso respeito, qualquer que seja a sua decisão, estaremos com ele. Mas ele também tem as suas circunstâncias, os seus compromissos com o estado de São Paulo, seu plano de governo – disse Kassab.