Antônio Pitanga se emociona com Troféu Zeca Pagodinho em Festival de Cinema de Xerém: 'melhor que o Oscar'
Bairro de Duque de Caxias (RJ) recebe a segunda edição de mostra cinematográfica Oscar, Globo de Ouro, Urso de Prata em Berlim, prêmios de direção e ator em Cannes... Foram várias as conquistas do cinema brasileiro apenas no primeiro semestre de 2025. Umas são mais populares, outras, mais glamourosas. Mas talvez o mais “carismático” seja um entregue num pequeno festival cinematográfico em Duque de Caxias (RJ), na Baixada Fluminense: o Troféu Zeca Pagodinho. Criada pelo artista paraibano Benjamin Carlos dos Santos, a estatueta, apelidada de Pagodinho de Ouro pelos mais íntimos, é o prêmio máximo do Festival de Cinema de Xerém, cuja segunda edição se encerra hoje com a premiação oficial das três mostras competitivas da programação (curtas nacionais, curtas da Baixada e curtas gospel).
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— É melhor que o Oscar! O Zeca é humano, eu pego, eu abraço ele — diz Antônio Pitanga, homenageado deste ano, ao receber o troféu. — Trabalhei em Xerém nos anos 1980, quando filmamos “Quilombo”, de Cacá Diegues, mas conheci o bairro através dos olhos do Zeca, que trouxe para cá sua família e seus amigos. E Xerém cresceu muito nesses 40 anos por conta dessa vida e dessa entrega que é o Zeca.
Antônio Pitanga recebe Troféu Zeca Pagodinho em Festival de Cinema de Xerém
Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Idealizado pela Escola Brasileira de Audiovisual (Ebav), em parceria com o Instituto Zeca Pagodinho, o festival teve seu pontapé inicial na quinta-feira, com homenagem ao veterano ator, de 85 anos, e exibição do documentário “Pitanga” (2016), dirigido por Beto Brant e Camila Pitanga. Filho de Zeca Pagodinho e presidente do instituto que leva o nome do pai, Louiz Carlos da Silva também foi homenageado ao lado da mãe, Mônica Silva. Patrono do festival e símbolo de Xerém, Zeca passou pela casa de festas transformada em cinema horas antes da abertura das portas, para ver como estavam os preparativos, mas não ficou para as homenagens da mulher, do filho e do amigo de longa data.
— Meu pai é o Drácula invertido. À noite ele se entoca, não é muito de sair — diverte-se Louiz Carlos, tratado por todos como Luizinho, feliz em levar para casa uma estatueta do pai. — Vai ser legal ter um Pagodinho de Ouro em casa. Meu pai é um super-representante da cultura e da democratização do acesso à cultura. Ter a imagem dele atrelada a um festival que traz cultura para essa região, que passa filmes infantis, filmes da Baixada, é muito bom.
Louiz Carlos da Silva, presidente do Instituto Zeca Pagodinho, e Sergio Assis, diretor-geral do Festival de Cinema de Xerém
Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Pitanga vê o festival como uma oportunidade de voltar os olhos não só do estado do Rio de Janeiro mas do Brasil para Xerém. Já Luizinho comemora a chance de exibir e formar novos realizadores na região, mas especialmente dar acesso ao cinema a uma comunidade que não tem salas comerciais. Em 2025, o evento acontece numa casa de festas. A primeira edição, no ano passado, foi realizada no centro de convenções de uma igreja local. No futuro, a produção sonha com uma sede fixa a partir do projeto de um cineteatro com 250 lugares em desenvolvimento pela prefeitura de Duque de Caxias.
— É muito bom um evento como este para mostrar este outro lado de Xerém. A cultura aqui é muito forte, é importante mostrar isso para todo o Brasil — diz Susana Flores, chefe de cozinha e moradora de Xerém, em sua primeira vez no festival.
Além dos moradores, os envolvidos na produção do evento destacam de forma unânime a vontade de fazer de Xerém um lugar conhecido pelo cinema e não mais apenas pelo samba e futebol (o bairro também abriga o centro de treinamentos do departamento de futebol de base do Fluminense, conhecido por revelar os “moleques de Xerém”).
— O Festival de Xerém é fruto de um projeto de capacitação e inclusão destinado a moradores da Baixada Fluminense chamado Cinema Leva Eu, que resulta na Ebav. Tivemos duas turmas de onde saíram dez filmes pensados, produzidos e dirigidos pelos alunos. Mas aí vimos a necessidade que as pessoas tivessem a oportunidade de mostrar seus trabalhos. Então, fomos atrás de parceiros para produzir um festival de cinema — conta Sergio Assis, diretor-geral do evento.
Jovens em foco
Além dos homenageados, o Festival de Cinema de Xerém também concede o Troféu Zeca Pagodinho para os curtas das mostras competitivas. Na atual edição, 15 curtas foram selecionados, cinco por mostra. A cerimônia de premiação de hoje irá definir as obras premiadas como melhor filme, melhor direção, melhor roteiro, melhor ator, melhor atriz e prêmio do júri popular, em cada uma das mostras. Os vencedores são definidos por júri formado por nomes como os atores Vinícius de Oliveira e Patrícia Pillar.
Troféu Zeca Pagodinho do Festival de Cinema de Xerém
Alexandre Cassiano / Agência O Globo
Conhecido pelo papel de Josué no clássico “Central do Brasil” (1998), de Walter Salles, Vinícius conduz hoje a oficina “Atuação para câmera”, desenvolvida com a Ebav.
— Fazer um encontro é dar a oportunidade para que a juventude de Xerém e da Baixada Fluminense discuta e pense cinema — destaca Antônio Pitanga.
Reforçando o evento como espaço para novos talentos, o diretor do festival lembra que, no ano passado, Ayla Gabriela ganhou o Troféu Zeca Pagodinho de melhor atriz pelo curta “Pássaro memória” (2023), de Leonardo Martinelli. Um ano depois, ela foi escolhida como protagonista de “Geni e o zepelim”, novo filme de Anna Muylaert.
— Nosso foco é capacitar e incluir pessoas no mercado de trabalho, e o festival vem pra consolidar essa visão — diz o diretor-geral Sergio Assis, que fala com admiração do patrono do evento. — O Zeca é alguém que sempre que possível está incluindo pessoas e gerando oportunidades, especialmente aqui em Xerém. Já vi ele fugindo de entrevistas, mas, se tem alguém precisando de ajuda, ele vai ajudar.
Morador de Xerém e pela primeira vez acompanhando o festival, o empresário Sérgio Gonçalves também elogiou o sambista:
— O Zeca é uma pessoa muito boa, uma pessoa simples. Esse projeto do festival de cinema vai ao encontro dele, é alma dele.