Rapper Yung Lean conta como fama na adolescência quase o matou e comenta nova fase com turnê, estreia no cinema e aula de boxe
Por quase metade da vida, o sueco Yung Lean foi uma curiosidade da internet em busca de um terreno firme. Descoberto no YouTube como um rapper de rosto angelical e boca suja, ele reverenciava seus contemporâneos americanos da internet, mas ansiava por construir seu próprio caminho fora de Estocolmo.
100 maiores músicas brasileiras: confira a seleção do GLOBO, monte a sua lista e compartilhe
Descolamento da retina: cantor Julio Reny perde a visão após ser agredido por ex-produtor com troféu; família pede ajuda para tratamento
Como líder do grupo Sad Boys, Lean, nascido Jonatan Leandoer Håstad, escolheu um caminho independente em vez das promessas de uma grande gravadora na década de 2010, e rapidamente se tornou uma sensação cult pela forma como sua música misturava cinismo impávido, hedonismo adolescente e beleza psicodélica.
O grupo, que também contava com os produtores Yung Sherman e Gud, ajudou a expandir o gênero do hip-hop underground conhecido como cloud rap, por suas texturas etéreas e atmosfera melancólica.
Ao longo de mais de uma dúzia de álbuns e mixtapes, Lean também experimentou folk, emo e pós-punk, como em seu álbum mais recente, “Jonatan”, lançado este ano, tornando-se uma espécie de figura à la Zelig na música contemporânea — o artista favorito do seu artista favorito.
Nem sempre foi fácil
Aos 18 anos, enquanto morava e gravava em Miami, Lean sofreu um surto psicótico causado pelo uso de drogas e por seu transtorno bipolar não diagnosticado, que coincidiu com a morte de seu empresário, em 2015. Seguiu-se uma longa jornada através da depressão e da recuperação, com Lean finalmente canalizando suas energias para ainda mais formas de expressão, incluindo artes visuais, boxe e, agora, atuação.
— Tenho 29 anos agora, quase 30 — disse Lean ao Popcast, o programa de música do New York Times. — Trabalhei muito em mim mesmo. Me meti em situações muito estranhas e trabalhei nisso.
Foto: Sean 'Diddy' Combs aparece irreconhecível após primeiros dias em prisão federal nos EUA
Agora, ele está pronto para a expansão criativa e profissional que sua sólida base artística lhe proporcionou:
— Gosto da ideia de me entregar completamente, mas você tem que se entregar na hora certa, quando seu coração estiver pronto para isso.
Além de uma turnê em andamento para promover “Jonatan”, ele fez sua estreia no cinema ao lado de Vincent Cassel, Chris Evans e Anya Taylor-Joy em “Sacrifice”, dirigido por Romain Gavras, que estreou no Festival de Cinema de Toronto em setembro.
No Popcast, Lean discutiu seus projetos criativos mais recentes; a jornada sinuosa que o levou a este momento; e a sabedoria que ele pode compartilhar do outro lado. Estes são trechos da conversa.
JOE COSCARELLI: Quando você começou a fazer rap em inglês?
Na sexta, sétima e oitava séries, eu morava em Hanói e estudava em uma escola internacional porque minha mãe trabalha com direitos humanos. Era uma mistura de crianças vietnamitas, crianças da Coreia, dos Estados Unidos, do Quênia e da Suécia. E eu me sentia muito alienado naquela época. Fiquei realmente isolado e encontrei meus hobbies — ficava no computador da escola baixando álbuns no Pirate Bay. Estudei toda a história do hip-hop, da música eletrônica e do punk. Fiz grafite e, a partir daí, comecei a escrever letras em inglês.
JOE CARAMANICA: Você não deu muitas entrevistas como esta. A última foi há quase uma década, depois de um período muito sombrio em Miami. Quando você teve seu momento de lucidez e disse “preciso ir para casa”?
Fui forçado a isso. Eu era muito jovem e estava numa espiral descendente, e talvez inconscientemente quisesse enlouquecer, sabe? Eu romantizava as drogas desde jovem e romantizava a loucura. Gostava de artistas como Daniel Johnston, que tinha sido maníaco, e esses personagens estranhos tipo Charles Manson. Eu queria ver se conseguia me levar ao limite. E isso é algo muito estranho de se fazer, agora que olho para trás, mas também é como se eu tivesse que me colocar naquele lugar para poder sair dele.
COSCARELLI: Quando você se sentiu firme o suficiente para entrar nessa fase em que está atuando, fazendo turnês, pintando e treinando boxe?
Quando assumi o controle. Fiquei sóbrio basicamente há dois anos, quando parei de tomar (a droga herbal) kratom. Então fiquei completamente sóbrio, perdi muito peso. Tudo ficou meio bobo de novo. Você percebe que não é tão profundo assim, nada disso.
COSCARELLI: Parece que era bem profundo.
Foi profundo em um certo momento, sim, foi pesado. Mas esse circo da fama, das conquistas, da influência, de fazer shows — é tudo como uma simulação na qual você entra e não precisa levar tão a sério, sabe?
CARAMANICA: Como é fazer parte de um longa?
Trabalhar em um álbum é como fingir que você é Einstein numa cabana e vai descobrir uma equação que ninguém nunca ouviu. Mas fazer um filme é como ter 300 pessoas trabalhando duro, como uma colônia de formigas. Achei isso lindo.
COSCARELLI: Está orgulhoso da sua atuação?
Super. Nunca atuei assim, com falas e cenas de ação, e em um momento teve um diretor de fotografia francês que disse: “Nossa, esse novo ator sueco tem um jeito bem vanguardista de fazer as coisas.” E o Romain começou a rir: “Ele não é ator, é rapper!”