Israel volta a bombardear o sul do Líbano e eleva pressão sobre o Hezbollah e o governo em Beirute
As Forças Armadas de Israel voltaram a bombardear o sul do Líbano, apesar do cessar-fogo vigente desde o ano passado, afirmando que os alvos eram ligados à infraestrutura militar do Hezbollah. A ofensiva ocorre em meio a negociações para o desarmamento do grupo político-militar, que apesar da pressão dos EUA e das bombas de Israel se recusa a aceitar o plano que está sobre a mesa.
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De acordo com um comunicado emitido pelo comando militar israelense, unidades voltadas à reconstrução da infraestrutura militar do grupo foram atingidas no sul. Alertas foram emitidos para moradores de cidades e vilas na área para que deixassem suas casas e ficassem longe de alguns prédios. Ao menos uma pessoa morreu na ação, que envolveu aeronaves e drones.
A inteligência israelense alega que o Hezbollah tem trabalhado para restaurar sua capacidade de combate, parcialmente perdida após a guerra travada entre setembro e novembro do ano passado, que também eliminou sua cúpula política e militar. Informações obtidas nas últimas semanas afirmam que o grupo conseguiu restaurar parte de sua cadeia de suprimentos e que voltou a ser abastecido com armas e munições vindas do Irã.
— A doutrina de segurança de Israel mudou desde 7 de outubro. As Forças de Defesa de Israel agirão contra qualquer ameaça em seu estágio inicial, independentemente dos motivos do inimigo — afirmou uma fonte dos serviços de segurança de Israel ao jornal Haaretz, em condição de anonimato.
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Os militares israelenses ainda acusam o Estado libanês de evitar confrontos com o Hezbollah, em meio a um complicado cenário político após a assinatura do cessar-fogo firmado há um ano.
Pelo acordo, que pausou os bombardeios e combates terrestres, mas não eliminou o estado de guerra entre Israel e Líbano, as Forças Armadas libanesas passariam a ser as únicas entidades armadas no sul do país, e o Estado libanês deveria supervisionar o desarmamento do Hezbollah até o fim do ano. O governo se viu obrigado ainda a supervisionar todo o processo de produção e venda de armas no país. Apesar do acordo, os israelenses continuaram a realizar ataques contra o país.
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Contudo, o Hezbollah afirma que o acordo se aplica apenas ao sul do Líbano, e embora parte de seu arsenal tenha sido inutilizado — segundo a agência Reuters, o Exército libanês está ficando sem explosivos por conta da destruição de tantas armas —, o grupo rejeita o desarmamento completo, como querem Israel e os EUA. Antes da guerra, o Hezbollah era considerado a maior força militar não-estatal do planeta, e apoiou o Hamas na guerra centrada na Faixa de Gaza lançando centenas de mísseis contra o norte de Israel.
No domingo, em entrevista ao canal do grupo, a TV al-Manar, o secretário-geral do Hezbollah, Naim Qassem, disse que não seguiria o que “EUA e Israel mandam”, e que “a posse de armas é parte integrante do nosso direito legítimo de defender nossa pátria e nossa existência”, disse ele. No mesmo dia, em um sinal de impaciência de Washington, o enviado especial à região, Tom Barrack, chamou o Líbano de “Estado falido”.
— A liderança libanesa hoje é sólida. O presidente [Josef] Aoun, o primeiro-ministro Nawaf Salam, até mesmo o presidente do Parlamento, Nabih Mustafa Berri. Eles estão tentando, mas são dinossauros — disse Barrack, em um evento no Bahrein.
O representante americano também pressionou as autoridades libanesas a avançarem nas conversas diplomáticas com Israel, hoje em ponto morto.
— [Israel está] pronto para firmar acordos de fronteira e divisas com todos os seus vizinhos — afirmou Barrack. — Não temos tempo para essa cadência diplomática. Vocês não têm tempo para isso.
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Ouvidos pelo Haaretz, integrantes do governo libanês veem a intensificação dos ataques aéreos contra seu país como uma nova frente de pressão por um acerto diplomático. Na semana passada, Aoun disse que está aberto às negociações, mas tem feito críticas aos bombardeios e à presença militar israelense em posições dentro do país árabe — em uma ordem às suas forças, disse que qualquer incursão deve ser respondida com força.
Nesta quinta-feira, em uma carta aberta aos três líderes do Líbano, o Hezbollah rejeitou o diálogo.
“A atual conjuntura exige unidade nacional para enfrentar a agressão e rejeitar qualquer avanço em direção a novas negociações políticas com o inimigo”, diz o texto, que reafirma o compromisso do grupo com o “entendimento nacional, proteção da soberania e preservação da segurança e estabilidade no Líbano”. “Israel não cumpriu o acordo de cessação das hostilidades, mas continuou com tentativas de chantagem política e esforços para impor condições que atendam aos seus interesses.”