Após críticas, produção de 'Geni e o zepelim' anuncia mudança de elenco e que protagonista será vivida por atriz trans
Diretora Anna Muylaert abriu debate nas redes sociais ao ser questionada sobre mudança na identidade de gênero de Geni, que era travesti no musical 'A ópera do malandro' (1978), inspiração para o longa Após polêmica sobre a escolha de uma atriz cis para interpretar a personagem Geni, no longa “Geni e o zepelim”, adaptação da canção de Chico Buarque para as telas, a produção voltou atrás e anunciou neste sábado (19) que selecionará uma atriz trans para o papel.
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Em entrevista ao GLOBO, a diretora Anna Muylaert, de “Que horas ela volta?” (2015), havia anunciadoem primeira mão a atriz Thaina Duarte, conhecida por seu trabalho em “Aruanas” e “Cangaço novo”, para o papel. Após a publicação da reportagem , a diretora passou a receber críticas por não selecionar uma atriz trans, uma vez que o personagem era uma travesti no musical “A ópera do malandro” (1978), que inspirou a obra.
Essa semana, Anna Muylaert postou um vídeo em suas redes sociais justificando a escolha mas também aberta a dialogar com quem defendesse um atriz trans. Nos comentários, muitas personalidades se manifestaram, como as atrizes Camila Pitanga, Renata Gaspar, Débora Lamm, Renata Carvalho, a cantora Liniker e a artista visual Lyz Parayzo.
Na nota oficial, as produtoras Migdal Filmes, Paris Filmes e Globo Filmes anunciaram que o projeto seria redesenhado. "A personagem principal, inicialmente concebida como uma mulher cis, passa a ser uma mulher trans/travesti, e será interpretada por uma atriz trans. A decisão coletiva foi fruto da escuta atenta e do aprendizado de intensas trocas com pessoas de diferentes setores da sociedade. Compreendemos que o momento político global, e em especial o cenário transfóbico no Brasil, impõe a todas as pessoas uma postura ativa e comprometida. Consideramos que esta mudança de abordagem da identidade de gênero da personagem no filme é a atitude acertada", destacou a nota.
O texto também agradece a Thainá Duarte ("Uma atriz de grandeza e talentos únicos") e à Associação de Profissionais Trans do Audiovisual (APTA) e informa que o filme começa a ser rodado em duas semanas, no Acre, e que a nova protagonista será divulgada em breve.
Em vídeo postado em suas redes sociais, Thainá Duarte disse que uma das primeiras perguntas que fez à diretora foi a razão da escolha por uma Geni cisgênero na adaptação. "Em conversa com a Anna Muylaert ela me explicou que queria fazer uma releitura, falar sobre a floresta, sobre a Amazônia, fazer um paralelo com o feminino que é ferido, machucado, e ela queria fazer isso com um Geni cis. Também me tranquilizou quando ela me disse que estava em conversas com pessoas da comunidade trans, enquanto ela escrevia e desenvolvia esse projeto. Dentro dessas circunstâncias, acreditei que minha experiência como atriz pudesse contribuir com essa releitura".
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'Vai ter o zepelim?'
A ideia de adaptar “Geni e o zepelim” para as telonas nasceu de um insight do filho adolescente de Iafa Britz, produtora conhecida por hits de bilheteria como “Se eu fosse você” (2006) e “Minha mãe é uma peça” (2013). Durante a pandemia, trabalhando de casa, ela desenvolveu a rotina de ouvir músicas com os filhos, e Chico Buarque era nome onipresente na trilha sonora da família. Determinado dia, ao ouvirem “Geni”, um dos filhos falou: “Essa música dá um filme perfeito.” Foi então que Iafa decidiu escutar a canção que amava com outros ouvidos. E concordou: afinal, há ali uma história com início, meio e fim, com heróis e vilões, com intrigas e reviravoltas. Decidiu então procurar Chico Buarque.
— Chico ficou animado e foi muito aberto à ideia de fazermos o filme. É uma adaptação livre. Desde o início, propus que déssemos um novo final para Geni, que está há 50 anos só levando pedrada. E ele gostou — lembra Iafa. — Foi uma conversa interessante. Chico trouxe as referências que ele teve para a canção, que foi um conto chamado “Bola de sebo”, de Guy de Maupassant. Foi gentil e não fez exigências, a única coisa que perguntou foi: “Mas vai ter o zepelim, certo?
Na trama do filme, Geni é uma prostituta de uma cidade ribeirinha, localizada no coração da Floresta Amazônica. Em meio a uma guerra por terras, ela vê o local ser invadido por tropas lideradas por um tirano comandante, que chega voando em um imponente zepelim. Com um projeto predatório para a região, ele se encanta por Geni, que percebe que talvez ainda exista uma chance de virar o jogo.