Laboratório na França 'desalcooliza' vinho para se adaptar ao mercado; entenda
Em um laboratório no sudoeste da França, um engenheiro químico manipula amostras de vinho sem álcool recém-extraído de cubas de metal, produzido para atender às novas tendências de consumo no país e no mundo.
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"Os clientes esperam um vinho com 0% de álcool", explica o engenheiro Romain Laher, responsável pela desalcoolização do Le Chai Sobre, inaugurado em junho.
Da seleção dos lotes ao engarrafamento, este centro foi criado por iniciativa da startup Moderato e do grupo de viticultores Vivadour, do departamento de Gers. Nesse mercado, a Moderato vende 50% de seus produtos na França e 50% no exterior, em quinze países, incluindo Canadá, Suíça, Dinamarca e Emirados Árabes Unidos, de acordo com Sébastien Thomas, cofundador da empresa, que visa integrar o vinho sem álcool "à família da excelência francesa".
"As vinificações para vinhos desalcoolizados" não diferem fundamentalmente daquelas "realizadas para todos os vinhos", observa Frédéric Ben, chefe de vinificação e enologia do Le Chai Sobre.
Empresa vende 50% de seus produtos na França e 50% no exterior, em quinze países, incluindo Canadá, Suíça, Dinamarca e Emirados Árabes Unidos, de acordo com Sébastien Thomas (à direita), cofundador da empresa
Lionel Bonaventure/AFP
Nessa estrutura, as moléculas de álcool são eliminadas preservando os aromas do vinho, por meio de um processo especial desenvolvido para se adaptar ao "crescente interesse por um produto diferente", acrescenta Laher. Feito como um vinho tradicional, o produto é desalcoolizado por meio de uma "nova ferramenta" recentemente desenvolvida, que utiliza um "processo de destilação a frio", explica o engenheiro.
"A pressão dentro da máquina é reduzida, o que diminui o ponto de ebulição do álcool", que é extraído "a uma temperatura muito mais baixa do que em uma destilação convencional", explica ele.
Por meio de várias etapas, incluindo a transição do álcool para sua "fase de vapor", esse método — diferentemente da destilação à temperatura ambiente — permite obter "as melhores qualidades no produto desalcoolizado", observa ele, enquanto acompanha o processo em uma tela sensível ao toque.
Desinteresse por bebidas alcoólicas
No entanto, a eliminação do álcool "intensifica a sensação ácida do vinho", que "deve ser compensada com açúcar no produto final", enfatiza Ben. Cerca de 6.000 hectolitros serão produzidos este ano pela Le Chai, que prevê um crescimento anual de 50%. O centro de desalcoolização é "muito jovem, mas está em rápida expansão", acrescenta o diretor de vinificação, esperando que a capacidade de produção do local possa aumentar para 80 mil hectolitros por ano.
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Na Gasconha, no departamento de Gers, onde os vinhos têm perfis aromáticos específicos, a Moderato — especializada na venda de vinhos sem álcool — encontrou os candidatos ideais para criar o centro, explica Thomas.
Desde a década de 1960, "temos assistido a um declínio contínuo nas vendas de vinho, que foi muito significativo nas décadas de 1970 e 1980", explica Pascal Dupeyron, diretor da divisão vinícola do grupo Vivadour, que reúne 400 viticultores em Gers.
Ainda hoje, "apesar da reputação dos vinhos franceses e de toda a expertise do país", esse declínio continua ao longo dos anos e "se traduz em dificuldades para vender nossos vinhos", observa. Observando "a crescente falta de interesse, especialmente entre os jovens, por bebidas alcoólicas", a Vivadour começou a estudar a produção de vinho desalcoolizado em 2023.
"Estamos nos perguntando como expandir nossas atividades para capitalizar as reservas dos viticultores", diz Dupeyron.
De acordo com um relatório de 2022 do CNIV (Comitê Nacional Interprofissional de Vinhos com Denominação de Origem Protegida e IGP), o consumo de vinho deverá cair 25% até 2035, enquanto o mercado global de vinhos sem álcool deverá explodir, atingindo US$ 5 bilhões em 2032, em comparação com US$ 1,8 bilhão em 2022, de acordo com a consultoria americana Fact.MR.