Mas isso não é o suficiente para romantizar e amenizar o meu sofrimento e a repulsa que eu sinto em ter que iniciar essa rotina desgastante que eu vivo.

Ainda que os reparos nao tenham saído do meu bolso, só de a minha mão não arcar com NENHUMA despesa minha nem mesmo o de comer, algumas coisas melhoram aqui dentro de casa.

Eu tenho medo de pedir o desligamento, porque antes desse upgrade nas assinaturas na minha carteira a insegurança alimentar era uma realidade, e a minha casa era alagada em períodos de chuva por causa de infiltração e obra mal feita.

Eu espero com toda a minha existência, que minha vida tenha mudanças drásticas no que diz respeito à minha carreira. Se eu soubesse 1% do inferno que seria a minha vida nesse emprego eu jamais teria aceitado a proposta.

Eu não vou aceitar promoção nessa empresa porque com o meu currículo eu consigo ir até a assistência administrativa, que ganha o mesmo salário que o meu e trabalha mais.

Porque por mais que eu me engane repetindo para mim mesma que agora quem paga as minhas despesas sou eu, e que os benefícios cessou a insegurança alimentar aonde eu moro, eu sei que quando eu precisar eu vou ter que vender da nossa comida para ter o que eu precisso/necessito naquele momento.

Mas por causa disso eu não durmo. Eu não descanso. Vivo cansada e só sei reclamar.

"Faculdade é fácil de fazer, não se ingressa porque não quer" falou a pessoa a qual os pais são formados, e nunca precisou vender o almoço para ter a janta.
Eu tento romantizar essa minha rotina exaustiva, na qual eu tento conciliar a minha arte com a clt e se sobrar tempo estudar.

Um funcionário que recebe um salário mínimo, que para ter algum agrado próprio precisa juntar dinheiro por 3 4 meses. Que não tem tempo nem para ir à esquina.

Eu trabalho com pessoas que felizmente aparentam nunca ter tido uma gota do ácido da consciência de classe pingada nos olhos. São pessoas que tem a coragem de sugerir a um funcionário que gasta 15 horas do dia em função à empresa que ele faça faculdade.

Mas a verdade é que eu não me importo tanto com o salário como me importo as horas perdidas do meu dia em função do trabalho para uma empresa onde eu não me idêntico nem um pouco, onde eu não sou ninguém, e onde eu não me sinto valorizada e nem tenho plano de carreira.

Hoje minha carga horária contando com o tempo de transporte aumentou para 11 horas diárias. Para ganhar um aumento onde no total eu recebo um salário mínimo.

Eu queria sim gostar de trabalhar e me dedicar a minha função no meu setor. Eu era assim quando era menor aprendiz. O salário nunca foi bom e muito menos digno. Ganhava quase 400 reais, eu gostava do horário e por isso me sentia na disposição de me esforçar para exercer bem a minha função.