há dias em que morro de medo
de ser as minhas próprias correntes
que minhas artérias sejam de ferro
e conduzam tudo o que pode me destruir
que meus sentimentos oxidem entre o coração e o cérebro
que só me sobre a cor cinza
e o sabor de chumbo
peço pra que eu me torne menos amargura
e mais amargurada

queria fazer poesia mas só tenho perguntas
sobre o que é ser humano
se alguém pode me dar explicação
por que é que me perco tão fácil
na minha própria confissão
me torno minhas feridas
sangro na cama, toda profana
e já não sei mais
o que é medo, o que é miséria
o que é ansiedade, o que é dor

ser uma boa pessoa é difícil demais
mais difícil do que posso suportar
quando penso nas palavras ditas e não ditas
quando penso nos olhares cravados em mim
quando penso nas fragilidades exploradas
quando penso nos gritos silenciados
quando penso nas lágrimas não secadas
suportar
suportar
suportar

tenho medo que as pessoas façam comigo
o que faço com elas
quando não estão vendo
e nem sentindo
tenho medo que tenham um boneco meu
e façam com ele as mesmas coisas terríveis
perturbadoras, assustadoras
que eu faço com seus bonecos
tenho medo de tudo o que não sou capaz de fazer

uma única. apenas para apagar o fogo na raba