Se a esquerda criar uma base forte de pensamento em política de segurança, tem chance de recuperar o terreno. O que não dá é, por um lado, gente de esquerda encampando o mesmo discurso colonialista da direita, como aconteceu no caso da chacina de Cláudio Castro, ou fingir que só o social resolve.

Política social é importante e foi o que garantiu que Lula estabelecesse um novo canal de comunicação com a população que passa ao largo do poder da força. Mas à medida em que a miséria vai sendo superada, outras demandas se fazem naturais - e muita gente se vê à mercê de bandido ou da polícia.

Porém, quem na esquerda faz um trabalho sério de entender o sistema judicial, as polícias, o aparato repressivo, a legislação? Em geral, quem não está em cargos eletivos ou no 1º escalão em administrações públicas. Uma boa movimentação seria capacitar gente e criar quadros eleitorais para isso.

Tarcísio e outros só entendem o Brasil pelo prisma do 'colonialismo' da elite. Por isso repetem o que o Malufismo já fazia e, em análise mais profunda, o que a República Velha fazia. A esquerda tem uma janela de oportunidade para tomar a frente e mudar os parâmetros dessa discussão.

Não há sistema colonial que tenha se mantido para sempre. Em algum momento, tudo vai ruir ou, então, assumir outra forma (como o que acontece na relação EUA e América Latina). Se a direita fosse mais competente e estratégica, pensaria numa transição de modelo. Mas não é.

TODOS os dogmas da direita sobre segurança pública são influenciados por esse perfil extrativista da classe dominante brasileira. Como acontece com qualquer poder colonial de dominação, no longo prazo esse sistema tende a se desfazer pelas suas próprias incoerências.

Manter o status quo e conservar as estruturas de poder e riqueza são os objetivos da direita no mundo todo. Mas no Brasil há um enfoque mais perverso: a direita age como um poder colonial extrativista, controlando uma população que lhe é estranha, num país cuja cultura despreza ou não entende.

O "amor" da direita por segurança pública na verdade vem de uma afinidade pela opressão, pelo controle pela força, pela defesa do privilégio da oligarquia. Fanon dizia que o interlocutor do Estado com o povo oprimido é o gendarme. Nada resume melhor. A direita quer, na verdade, manter privilégios.

Se bem que agora eu li a matéria e talvez o assassino só tenha surtado ao ouvir o cara fazendo um Cover do Jota Quest

Tarcísio na presidência representa algo que evitamos em 1984: o malufismo em nível federal.

Em São Paulo já se vê isso: segurança pública regrediu a níveis de anos atrás, educação sofre desmonte, programas sociais sucateados, políticas públicas sendo usadas para beneficiar poucos e venda de patrimônio público...tudo isso, mascarado por obras viárias, bem estilo Maluf.

Bolsonaro destruiu muita coisa, mas em geral seu mandato foi marcado pela incompetência e má-gestão. Tarcísio, ao contrário, teria mais foco e método, mesmo que haja incompetência também. Vai destruir muito mais, com efeitos muito mais duradouros.

Desserviço público em todas as esferas, é a prova de que a direita aposta numa agenda negativa para desgastar o governo e, ao mesmo tempo, ter ganhos ocultos. Um eventual governo Tarcísio vai ser mais danoso ao Brasil do que foi o governo Bolsonaro, por motivos diferentes.