O filho concorda. Ele está desenhando algo com o dedo no aço gelado do elevador.
As portas se abrem e Yoongi dá de cara com um rapaz jovem, vestido em um conjunto de moletom, segurando uma sacola preta.
— Desculpe, - ele murmura apressado e desvia do rapaz.
— Tudo bem.

Na viagem até o térreo, Yoongi explica ao filho:
— Vou precisar voltar tarde hoje, mas sua tia vai busca-lo na escola, entendeu? Vamos dormir lá, ok?
— Tá bom, papai. Te espero.
— Não. Seja um bom menino e quando sua tia falar que é hora de dormir, é hora de dormir. Entendeu?

Yoongi não teve coragem de contar ao filho que sua mãe não voltaria. Ultimamente, pesquisa por uma clínica boa para o filho receber a notícia sem muitos traumas. Enquanto isso, o menino adoece com frequência.

Era para ter sido uma transferência temporária para o Japão, para cobrir um colega acidentado. Mas sua ex-esposa nunca mais voltou. Não estava nos planos dos dois serem pais. Yeonjun mudou isso apenas para Yoongi. Minji decidiu que sua vida combinava mais com o Japão.

Yeonjun é outro menino pela manhã. Alegre, falante e distraído. Depois do café da manhã, os dois correm para se arrumar e pegam o elevador. Yoongi pensa em como conversar com o novo vizinho. Confrontar problemas não é seu forte. E é por isso que ele está sozinho.

Ele ainda tem 3 horas até seu alarme tocar novamente e ele correr para arrumar Yeonjun para a escola e depois pegar três conduções até o escritório.

Quando volta a repousar sua cabeça no travesseiro, no escuro do seu quarto, é que percebe uma cantoria através da parede.
A voz é bonita, há risadas também. A voz claramente é masculina. Ele conversa mas não há resposta.
O prédio novo tem um defeito: paredes finas.

Mas ele se recusa a fechá-los. Prefere ficar olhando seu pai-guaxinim cantarolando uma melodia antiga.
Meia hora depois, Yoongi desliga a luz do abajur, estica os braços e boceja. Ele recém havia começado a cochilar quando o filho o acordou chorando. Está exausto.

Os cabelos pretos circundando o rosto.
Mamãe costumava dizer que eles eram uma família de gatos. Mas ela não está mais. E papai virou um guaxinim.
— Tome um pouco de água, Jun.
O menino toma o remédio, a água, tosse um pouco. Seus olhos ardem por conta da febre e da luz.+

A luz do abajur de dinossauro está acesa. Yeonjun observa em silêncio seu pai sentado ao seu lado. Outro dia, na escola, a professora o perguntou por que havia desenhado um guaxinim. "É meu pai."
Os olhos escuros, o nariz pequeno e redondo e o rosto um pouco inchados.

Yoongi inclina para beijar a bocheca do filho, se levanta e se arrasta para o banheiro para buscar um antitérmico e uma toalha úmida.
O filho não está mais chorando. Espera paciente o pai limpar seu rosto suado e colocar a compressa fria em sua testa.

— Yeonjun-ah, - Yoongi chama o filho baixinho, se sentando na beira da cama.
A luz noturna é laranja e mal ilumina o rosto do menino. Yoongi toca sua testa, está suada. Não precisa nem um termômetro para saber que o filho está ardendo em febre. A terceira vez em duas semanas.

Yoongi não sabe o que é dormir há 2 anos. Agora são só ele e o filho. Ele se levanta e se arrasta pelo apartamento. Algumas caixas ainda não foram nem abertas. Faz menos de um mês que se instalaram no apartamento novo. Em um bairro mais afastado, mas mais tranquilo também.

Aos 37, poderia dizer que se considerava bem sucedido. Se graduou tardiamente em uma faculdade à distância. Encontrou um emprego melhor. Casou-se com alguém que achou que passaria o resto da vida.
Yeonjun volta a chorar no quarto ao lado.

Yoongi achava que sabia o que era cansaço. Trabalhava desde cedo para mudar a realidade difícil que a vida havia imposto para si. Órfão aos 17, lutou para que sua vida não fosse em vão. Terminou a escola, frequentou uma escola tecnica, se formou, trabalhou e estudou como pode.

Yeonjun é um menino pequeno para sua idade. Frágil. Muito querido. Mas é solitário. Melancólico. Constantemente doente.
A mudança veio como uma tentativa de recomeço para ele e também para Yoongi.

Se antes eram as cólicas, agora são as febres. "É normal, ele recém começou a escola." Foi o que disseram para ele no pronto-socorro, na primeira noite de febre alta.
Agora são as gripes, viroses, conjuntivites. Doenças da socialização.

Yoongi pensou que a pior fase já havia passado. As noites sem dormir quando o pequeno Yeonjun, ainda bebê, passava chorando com cólicas terríveis. Agora com 6 anos, seus problemas seriam outros. Mas a verdade é que ter um filho é uma constante de altos e baixos.