Produtores investem em cafés especiais e ganham mercado internacional
Estratégia ajudou Minas Gerais a avançar nos embarques do grão neste ano Cafeicultores tradicionais de Minas Gerais investem no cultivo de cafés especiais e, com isso, ganham espaço no mercado internacional. A estratégia ajudou o Estado a avançar nos embarques do grão neste ano. De janeiro a agosto, as receitas com exportações de café de Minas Gerais aumentaram 33%, para US$ 4,5 bilhões. Em volume, o avanço foi de 28,4%, para 19 milhões de sacas, de acordo com a Secretaria de Agricultura, Pecuária e Abastecimento do Estado. Leia também Conheça o embaixador do café especial do Brasil Agrofloresta transforma o cultivo em fazenda de café em Minas Gerais Fazenda aposta em 'sociedade com a natureza' para produzir café Marinaldo de Freitas Santos, produtor de café em Caparaó (MG), na Zona da Mata Mineira, é um exemplo. Sua família cultiva café há 136 anos. Em 2018, o dono do Sítio Rochedo passou a produzir cafés especiais nos nove hectares da propriedade. A primeira exportação foi feita em 2022 para a Espanha. Nos anos seguintes, o produtor embarcou grãos para Espanha, Arábia Saudita e Alemanha. Recentemente, Santos fechou um contrato para embarcar 200 sacas por mês de cafés especiais para a Argentina, no período de 12 meses. Para garantir a entrega, o produtor vai se juntar a outras 12 famílias produtoras da região. Marinaldo de Freitas Santos, produtor de café em Caparaó (MG), e o filho Luan Santos Divulgação “A produção no sítio este ano vai ser de umas 550 sacas. Ano que vem vai ser menor, de umas 300 sacas. Devido ao clima, a floração não foi uniforme e o preparo do café especial ficou mais difícil”, afirmou Santos. O cafeicultor diz que 60% da sua produção é de cafés especiais. A diferença de preço para o café regular chega a R$ 800 por saca. “Fiquei muito feliz com esse novo contrato porque não só vou escoar a minha safra, mas também ajudar os vizinhos e os parentes a venderem a produção por um valor melhor”, diz Santos. Pierre Pereira, dono da Fazenda Terracini, em Tapiraí (MG), na região da Serra da Canastra, dá continuidade à produção que começou no século passado com seu bisavô. Mas diferentemente de seus antepassados, o produtor decidiu investir no cultivo de cafés especiais, sob influência da esposa, nascida na Costa Rica e de uma família de produtores de cafés especiais. Pierre Pereira, dono da Fazenda Terracini, em Tapiraí (MG) Divulgação “A fazenda tinha 30 hectares de café, mas era cultivado de forma antiga. Eu quis começar do zero para ter 100% do controle do que estou produzindo”, diz Pereira. Nos últimos quatro anos, Pereira cortou todos os cafezais e começou a plantar variedades novas. A lista inclui 11 variedades de cafés especiais, incluindo algumas exóticas, como o bourbon rosa, pacamara (trazido de El Salvador) e maragogipe. Na fazenda de 350 hectares, o cafezal ocupa 100 hectares. “Vamos plantar mais 20 hectares no fim do ano. O projeto é seguir plantando até chegar a 250 hectares de café em cinco ou seis anos”, diz Pereira. A produção neste ano é de 2,5 mil sacas, contra 1 mil sacas em 2023. Para o ano que vem, a expectativa é crescer para 3,5 mil sacas, chegando a 10 mil sacas por ano em seis anos. “Da produção total, uns 60% a 70% são cafés especiais, que vendemos com a marca Terracini Coffee. O restante é vendido como commodity”, diz o produtor. A fazenda recebeu este ano o selo Rainforest Alliance, que certifica a produção sustentável. Fazenda Terracini, em Tapiraí (MG), recebeu este ano o selo Rainforest Alliance, que certifica sua produção sustentável de café Divulgação Exportação Neste ano, Pereira começa a exportar o café para os Estados Unidos. “Sempre vendi o café no Brasil como commodity, vai ser o primeiro ano que vou exportar”, conta Pereira. Ele diz que o café especial nos Estados Unidos é vendido a preços entre US$ 1 mil e US$ 1,5 mil a saca, contra US$ 275 o café arábica comum. A Cooperativa dos Cafeicultores do Cerrado (Expocacer) montou neste ano um hub de cafés nos Estados Unidos e está distribuindo o produto no mercado norte-americano. “Estamos buscando acessar mais de perto o mercado consumidor para promover o trabalho do nosso cooperado e agregar valor”, afirma Sandra Moraes, gerente de cafés especiais da Expocacer. A gerente diz que 80% do volume de cafés especiais originados pela cooperativa são exportados. Os principais destinos são países da Europa e os Estados Unidos. “Existem oportunidades de acessar outros mercados que têm aumentado a demanda por cafés especiais do Brasil, como China, Indonésia e Índia. Outro mercado em ascensão que deve alavancar as nossas exportações é o Oriente Médio”, afirma Moraes. Initial plugin text Assistência técnica Os produtores participam do programa de assistência técnica e gerencial da Federação da Agricultura e Pecuária do Estado de Minas Gerais (Faemg). Ana Carolina Gomes, analista de agronegócios do Sistema Faemg Senar, diz que o programa oferece assistência em manejo, na gestão comercial e na elaboração de estratégias fora da porteira. Atualmente, mais de 4 mil produtores de cafés no Estado participam do programa, além de produtores de outras culturas. Os assistidos participam de uma competição anual de cafés e os melhores são apresentados na Semana Internacional do Café (SIC), onde têm a oportunidade de negociar com compradores nacionais e internacionais. “Muitos produtores tocavam o negócio como o avô fazia, com técnicas que não melhoravam a produtividade. Com a assistência, há uma evolução na produtividade”, diz Ana Carolina. Cafés especiais A Associação Brasileira de Cafés Especiais (BSCA) estima que a produção 2024 de cafés especiais no Brasil gira em torno de 8 milhões de sacas, de um total de 54,8 milhões projetados pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). Desses 8 milhões de sacas, a BSCA projeta que 1,35 milhão de sacas sejam consumidas pelo mercado brasileiro e o restante seja destinado ao mercado externo. De acordo com dados do Conselho dos Exportadores de Café do Brasil (Cecafé), os cafés especiais responderam por 17,6% das exportações brasileiras no acumulado de janeiro a agosto de 2024, totalizando 5,6 milhões de sacas, alta de 49,1% em relação ao mesmo intervalo de 2023. A receita somou US$ 1,41 bilhão, avanço de 55,2%. Os principais destinos foram Estados Unidos (23,9% do total), Alemanha (17,7%), Bélgica (12,1%), Holanda (7,1%). No mercado interno, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic), entre janeiro e abril deste ano, o consumo da bebida aumentou 0,16% em relação ao mesmo intervalo de 2023, totalizando 4,9 milhões de sacas de 60 quilos.