Ainda assim, estas dissidências religiosas foram importantes na luta contra autoritarismos no século XX. Resta esperar para ver a reação de Trump. Historicamente, governos autoritários não lidam bem com uma oposição vinda de religiosos e costumam danificar suas imagens ao oprimir este grupo.

Isso não muda o fato de que os cristãos dos EUA apoiam Trump. Dados do Pew Research Center apontaram essa preferência entre todas as agremiações religiosas do país, salvo judeus, protestantes negros e católicos hispânicos. Assim, dá para imaginar que a bispa é uma dissidência na sua própria Igreja.

Com jornalistas discutindo sobre como democratas estão sendo afáveis a Trump em sua inauguração, talvez para deixar claro que não compactuam com questionar a legitimidade do processo eleitoral de seu país, não é de todo uma surpresa que esta primeira voz que desafia Trump venha de uma religiosa.

A sorte que talvez nos ganhe tempo é que o projeto interno dele é tão obsessivo e violento às instituições que vão perder muito foco e tempo dentro, ignorando fora por um tempinho eu diria

São mesmo uma alternativa quando ignoram o que esses grupos têm a dizer e pedem votos apenas pelo medo de Trump? Essa eleição mostrou que não é mais possível ganhar apenas com medo e estética, sendo necessário, de fato, ouvir as populações marginalizadas que se deseja representar.

Os democratas escutaram o que achavam ser o desejo das mulheres brancas e de republicanos moderados e ajustaram seus discursos, mas não se deram ao trabalho de considerar as reclamações sobre inflação e política externa que vinham das comunidades de minorias que eles tanto dizem representar.

Para o futuro dessa vertente política dos democratas, que hoje chamamos de progressismo e já virou uma espécie de mantra em campanhas de esquerda e de centro ao redor do mundo, essa eleição provou que a representatividade sem a real interlocução não rende mais vitórias.