Filme 'O Filho de Mil Homens' vai 'na contramão do algoritmo', comenta Daniel Rezende, diretor da adaptação
O longa brasileiro estreou nos cinemas e na Netflix nesta semana e alcançou a marca de sexto filme mais visto do mundo em língua não inglesa; Daniel Rezende, diretor do filme, defende que o filme foca em questões que, por vezes, 'não engajam'. O filme "O Filho de Mil Homens", adaptação cinematográfica do livro de Valter Hugo Mãe e dirigido por Daniel Rezende, estreou nos cinemas e na Netflix nesta semana e já conquistou elogios do público e do próprio autor da obra literária. Além da boa recepção do público, o longa protagonizado por Rodrigo Santoro foi o sexto filme em língua não inglesa mais assistido do mundo nesta semana. A obra conta a história de Crisóstomo, um pescador solitário que deseja se tornar pai. A vida do protagonista muda ao conhecer Camilo, um menino órfão, e a aproximação entre os dois é o ponto de partida para a construção de uma nova família. Em entrevista ao Estúdio CBN, Daniel Rezende, diretor do longa, comenta como foi o processo para decidir adaptar a obra, o significado dos silêncios ao longo do filme e os desafios para criar a releitura dos personagens nas telas. Daniel explica que um dos motivos que mais o instigou a fazer o filme foi o potencial de causar reflexões sobre masculinidade e o papel do homem na sociedade partindo da própria experiência. Passando por um momento de questionamento de padrões e de desconstrução, o diretor abordou as marcas dos preconceitos na construção masculina na sociedade e, mais especificamente, no cinema. "E aí, quando a gente fala do papel do homem - a gente tá falando de dramaturgia desde Platão, desde lá de trás -, é um homem que tem que vencer, tem que vencer todos os desafios, não pode sofrer, não pode sentir, tem que ser pela violência, pelo poder, pela competição, esses são os códigos masculinos de conquistar. E o Crisóstomo, ele vai na contramão disso e o filme também, de alguma forma. Eu queria deixar uma referência de um masculino que é lindo, que é incrível, que é inspirador para uma geração que não precisa crescer só com Rock e Rambo, que pode crescer com o Crisóstomo como inspiração, sabe? E acho que era esse um pouco a vontade de fazer esse filme". Daniel descreve os silêncios como uma das marcas do filme. Para ele, o sentimento, os olhares, o afeto, o acolhimento e pertencimento são os elementos principais do longa, e que não, normalmente, não engajam. "A Netflix ousou apostar num filme que, na verdade, se você parar pra pensar, ele vai na contramão do algoritmo. Ele tem um tempo muito diferente dos filmes que a gente costuma ver. Ele tem uma lógica muito diferente dos filmes que a gente costuma ver. Tem uma quantidade de informações, de barulho, muito diferente do que a gente costuma ver e do que, teoricamente, as pessoas estão interessadas em ver. E que sim, esses algoritmos, assim como os padrões sociais, nos moldam pra que a gente se encaixe nesses padrões algorítmicos. Pra que a gente faça filmes repetidos como um disco riscado, e não é à toa que eu começo o filme com um disco riscado, que volta algumas vezes no filme". O impacto do filme, para o diretor, está em provocar reflexões sobre os efeitos de estar 'superconectado' no presente com o uso exagerado das redes, e como isso tem como efeito a falta de tempo, a ausência e a desconexão afetiva. Estar presente é um dos recursos mais valiosos para a caracterização de Crisóstomo, o protagonista do filme. "Eu acho que o superpoder deste filme é que, no momento em que a gente tá superconectado no mundo inteiro pelas telas, a gente nunca esteve tão desconectado, porque a gente nunca tá presente. A gente nunca tá verdadeiramente presente. E nesse filme, óbvio que como ele tá falando do não tempo e do não lugar, eu tirei toda a tecnologia do filme, porque a gente não sabe muito bem quando ele se passa, mas o fato não é só isso. O Crisóstomo é um cara que tá presente o tempo inteiro. Então, é por isso que ele consegue acolher, consegue escutar, mesmo quando o mundo dá porrada nele. Ele consegue estar presente. E eu acho isso muito inspirador". Ouça a entrevista completa: