Arranque o fôlego que circula em meu corpo e minha alma que clama por descanso!
Não continues a fazer de mim um brinquedo deste teu jogo bárbaro
Pois, se há mim sabedoria de algo
É que nunca tive a existência que mereci.

Vida, porque tão depressa tiraste os anos de minha mocidade?
A que devo desmedida malevolência?
Sabemos que o meu fim se aproxima, pois constantemente sinto uma voz a chamar por mim...
Acaso não considerarias um último desejo?

Nas trevas me lanças-te e nas trevas permaneci!
Muda de palavras e sentimentos.
Fizeste-me tanto descaso que coisa alguma tive para compartir
Não foste pai nem mãe, foste avareza e sofrimento!
Aprendi contigo que nada de bom se tem a oferecer
Quando só se ganha crueldade.

Me cegaste, quando em ti confiei o meu tempo e paciência
Correste ao encontro do fim
E eu, que julguei estar no início vi-me num desespero tão profundo
Que prontamente colapsei, que terei eu feito para merecer tamanho desamor?

Vida, por noites e dias chorei apavorada
E tu, ali, estática, diante de meus olhos foste passando
Causando-me danos irreversíveis, lembrando-me que nesta terra quem com pouco nasce
Subsiste num círculo vicioso de injustiças, de desgraças sucessivas e escuridão.

Só faltou dizer que todos os 99 eram trabalhadores e mega honestos. Íntegros pais de família...

Porque nem sempre se pode vencer.
Mas até quando essa força vai teimar em não aparecer?
O tempo vai passando
E é com ele que se vê os danos.
Já pensou se amanhã eu fico velha?
O que eu teria não daria nem para uma vela.
Já que não sou brilho em vida
Queria no mínimo brilhar na partida.

A auto-estima está lá embaixo
Quanto mais baixo menos me encaixo.
Força de vontade é o que deveria haver
Levantar da cama, lutar e aprender.
Sim, aprender!

Quiçá passaria toda a minha existência procurando o sentido de viver
E me perderia na presença de um universo impotente
Que nem das suas coisas mais belas conseguiu recriar
Da poeira de uma simples estrela o mais valioso tesouro inventado.

Sentir-te, beijar-te
São a única forma de extinguir o caos que há em mim.
Procuro em você a fonte da alegria
E encontro o manancial do desejo.

Acabo por ter dificuldades ao tentar definir
O que as palavras jamais seriam capazes de fazer.
Definir-te seria limitar-te e tu és maior do que qualquer conceito existente!

A nuvem, o movimento insistente, o vento e as minhas pétalas
Parecem não compreender que mesmo
Que eu morra nessa obsessão pela luz
Das minhas sementes nascerão
Novos eus que com mais força e lucidez
Alcançarão a claridade.

O vento que eu sinto
Tem um ar provocador
Como se quisesse me ensurdecer
Me impedindo de estar completa
Para quando finalmente visualizar o sol.

A cada movimento novo e frenético
Eu enxergo somente frechas de luz.
Tanto giro que perco a noção do que é real.
A brutalidade do meu girar
Faz com que eu perca imensas pétalas todos os dias
E esses pedaços de mim vão se desfazendo até se fazerem inexistentes.

Obrigada!

Feliz por estar aqui.