Por mais de dez anos tenho trabalhado em um livro sobre Beethoven que lida ao mesmo tempo com temas filosóficos e de composição musical."

(Trad. do inglês - Adorno & Mann: Correspondence 1943-1955)

A arte não pode, de fato, permitir de forma alguma que alguém a promova, nas suas obras, a tribunal da consciência, dando mais atenção ao assunto representado do que à representação." (Origem do drama trágico alemão, 1928, trad. Barrento)

"Poderá o conteúdo de uma obra ser adequadamente apreendido por meio de noções de ordem moral?

Nos casos em que estas últimas se impõem como núcleo fundamental da investigação, o pensamento abdicou do esforço muito mais nobre que é o de investigar o lugar histórico-filosófico de uma obra (...).

Ele simplesmente não aceitou que um arquiduque perturbasse a apresentação, e ponto final. A proteção de tal sistema permitiu aos artistas, cuja racionalidade burguesa realmente se intensificou a ponto de atingir autonomia, exercer essa autonomia na prática"
(Adorno: Viena. In: Quasi una fantasia)

se afinal de contas uma apresentação de ópera era um assunto tão sério assim. Para Beethoven e Brahms, a música era um assunto muito sério, devido à força da concepção de autonomia.

...

Mahler era o diretor da Ópera de Viena e ali exercia pleno domínio.

Os finais (...) da Canção da Terra [1911] e da Nona sinfonia [1909] evitam esse perigo com um instinto extraordinário [e não] apresentam uma conclusão positiva e sem conflitos, mas lançam olhares questionadores para o desconhecido."
(Adorno: Mahler, cap. 7)

Com efeito, ao que parece, o destino das pessoas, no mundo que vivemos, tem sido marcado cada vez mais pela classificação em tais rubricas, forjadas da maneira mais rígida possível, ao modo das definições incontestáveis."

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Com efeito, ao que parece, o destino das pessoas, no mundo que vivemos, tem sido marcado cada vez mais pela classificação em tais rubricas, forjadas da maneira mais rígida possível, ao modo das definições incontestáveis."

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como num estado totalitário, onde se exige das pessoas documentos de identificação para ir e vir, mas também a fim de tomar conhecimento, por exemplo, sobre se são arianos ou não arianos, proletários ou não, se têm posições direitistas ou dissidentes, ou qualquer coisa semelhante a isso.
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a intenção talvez seja tangenciar o momento da consciência atual que se mostra mais enfaticamente marcado pelo pensar administrativo.

Refiro-me ao pensamento baseado em alternativas, o pensamento que procede, em certa medida, segundo a forma de um questionário,
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Mahler não queria encontrar a paz naquela linguagem perturbada pelo curso do mundo; pelo contrário, fez uso dela com violência para resistir à violência. Os miseráveis restos do triunfo acusam os triunfantes." (Adorno: Mahler. Cap. 1. Trad. do inglês e do italiano)

"Por isso sua música, inimiga de qualquer compromisso, se ligou a materiais da tradição. Ela recorda, assim, as vítimas do progresso, mesmo as vítimas musicais: aqueles elementos da linguagem rejeitados pelo processo de racionalização e controle sobre o material.

Nessa concepção, aquilo que se eleva acima da rotina da autoconservação, aproveitando-se dessa rotina, não é o que escapa da teia de culpas; pelo contrário, o que escapa é o que foi soterrado e por consequência pode exercer a contrapressão que (…) a música de Mahler combina com a explosão utópica."

Nesse caso, tornar-se-ia como uma religião de domingo, uma decorativa justificação do curso do mundo. E se não convém que o Outro seja objeto de um baixo comércio, ele deve ser procurado escondido, no meio do que foi abandonado.