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@tabacaria.bsky.social
Fragmentos diários do poema “Tabacaria” de Fernando Pessoa.
Não sou nada.
February 28, 2025 at 3:00 AM
Que sei eu do que serei, eu que não sei o que sou?
February 27, 2025 at 2:55 AM
Estou hoje lúcido, como se estivesse para morrer.
February 26, 2025 at 2:09 AM
Tudo isso, seja o que for, que sejas, se pode inspirar que inspire!
February 25, 2025 at 3:04 AM
Estou hoje dividido entre a lealdade que devo à Tabacaria do outro lado da rua, como coisa real por fora, e à sensação de que tudo é sonho, como coisa real por dentro.
February 24, 2025 at 2:09 AM
E saboreio no cigarro a libertação de todos os pensamentos.
February 23, 2025 at 2:59 AM
Deitei fora a máscara e dormi no vestiário como um cão tolerado pela gerência por ser inofensivo.
February 22, 2025 at 1:15 AM
E tudo isto me pesa como uma condenação ao degredo.
February 20, 2025 at 2:49 AM
Ou cocote célebre do tempo dos nossos pais.
February 19, 2025 at 2:24 AM
Sempre uma coisa defronte da outra. Sempre uma coisa tão inútil como a outra.
February 18, 2025 at 1:59 AM
E uma sacudidela dos meus nervos e um ranger de ossos na ida.
February 17, 2025 at 1:52 AM
Estava bêbado, já não sabia vestir o dominó que eu não tinha tirado.
February 16, 2025 at 3:00 AM
Crer em mim? Não, nem em nada.
February 15, 2025 at 2:34 AM
Estou hoje perplexo como quem pensou e achou e esqueceu.
February 14, 2025 at 2:14 AM
Deito tudo para o chão, como tenho deitado a vida.
February 13, 2025 at 2:55 AM
E a consciência de que a metafísica é uma consequência de estar mal disposto.
February 12, 2025 at 1:57 AM
Ser o que penso? Mas penso ser tanta coisa!
February 11, 2025 at 2:36 AM
E o resto que venha se vier, ou tiver que vir, ou não venha.
February 10, 2025 at 2:13 AM
Como os que invocam espíritos invocam espíritos, invoco a mim mesmo e não encontro nada.
February 9, 2025 at 1:09 AM
Tu, que consolas, que não existes e por isso consolas.
February 8, 2025 at 2:48 AM
Serei sempre o que não nasceu para isso.
February 7, 2025 at 1:57 AM
Depois de certa altura morrerá a rua onde esteve a tabuleta, e a língua em que foram escritos os versos.
February 5, 2025 at 2:07 AM
Como por um instinto divino o Esteves voltou-se e viu-me.
February 4, 2025 at 2:02 AM
Mas ao menos fica da amargura do que nunca serei a caligrafia rápida destes versos.
February 2, 2025 at 1:16 AM
Janelas do meu quarto, do meu quarto de um dos milhões do mundo que ninguém sabe quem é.
February 1, 2025 at 2:10 AM