Emerson U. Cervi
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Emerson U. Cervi
@ecervi.bsky.social

Cientista político. Professor da Universidade Federal do Paraná. Grupo de pesquisa em Comunicação Política e Opinião Pública www.cpop.ufpr.br
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Derrite apresentou um substitutivo tão ruim que nem a extrema direita aceitou votar. Daí ele recuou tanto que voltou a ser praticamente o projeto original do governo. Nesse caso, a oposição também não aceitou votar. Resultado: adiada votação para semana que vem.

Quatro versões de pareceres do mesmo relator em cinco dias. E o substitutivo não foi votado. Um recorde que une irresponsabilidade do presidente da Câmara, incompetência, inoperância, falta de capacidade política e de coragem do relator.

Nas últimas 24 horas tivemos uma síntese do que é o ciclo do bolsonarismo, em quatro atos.
ATO 1 - ARROGÂNCIA - O bolsonarista enrustido Hugo Motta indica para relatar uma proposta apresentada pelo governo, um deputado que é declaradamente contra o governo.

Dois recuos em pouco mais de 24 horas. Isso para ver se consegue votar a proposta original do governo, menos alterada, ainda hoje, na Câmara, que é a obsessão do Motta. O presidente da Câmara espera, com isso, reverter parte da imagem negativa dele junto ao público.

ATO 4 - RECUO - Vendo que ficou sozinho e ainda tentando salvar a campanha para senado federal, que é o principal interesse do relator, o substitutivo foi alterado uma vez menos de 24 horas depois da apresentação. Mais do que isso, o texto alterado já foi modificado mais uma vez.

Tanto que na entrevista coletiva de ontem, na Câmara, junto com o presidente Motta estava o relator e, compondo o cenário, atrás dos microfones, apareciam apenas deputadinhos do baixo clero bolsonarista. Nenhuma cara conhecida.

ATO 3 - COVARDIA - Diante da repercussão negativa do substitutivo que mais protege do que combate o crime organizado, próceres do bolsonarismo no parlamento desapareceram. Deixaram de defender o relator. Não deram mais as caras em entrevistas. Sumiram.

Esse era o objetivo, minar a proposta de integração do combate ao crime. Imediatamente começa a ser criticado por especialistas de todas as áreas relacionadas à questão, inclusive por bolsonaristas neoliberais que temem os impactos negativos do crime organizado na economia.

Faz parte da lógica do bolsonarismo enrustido que é minar todas as propostas que não sejam bolsonaristas.
ATO 2 - PREPOTÊNCIA - O relator, com jeito de quem manda bater e manda quebrar qualquer um, apresenta um substitutivo, desvirtuando os principais pontos da proposta original.

É bastante incomum essa decisão. Em geral, relatam projetos do governo aqueles parlamentares que estão na base ou, no máximo, alguém 'independente'. Um opositor declarado, que deixa um cargo estadual para voltar à Câmara só para isso, é inusitado.

Nas últimas 24 horas tivemos uma síntese do que é o ciclo do bolsonarismo, em quatro atos.
ATO 1 - ARROGÂNCIA - O bolsonarista enrustido Hugo Motta indica para relatar uma proposta apresentada pelo governo, um deputado que é declaradamente contra o governo.

De outra forma: lideranças tradicionais do bolsonarismo não devem se consolidar como candidatos fortes de oposição. Mas, isso não significa que o governo está livre de enfrentar uma candidatura oposicionista forte em 2026. Ao contrário, o opositor mais perigoso é o desconhecido.

Se hoje ainda temos 2 em cada 3 eleitores que se dizem indecisos e vinte anos atrás esse percentual estava abaixo de 50%, significa que o eleitor está menos propenso a votar nos políticos que estão na memória saliente. Essa é a condição ideal para um outsider de última hora.

Em julho de 2025 os indecisos estavam em 68% e agora continuam em 69%. Isso representa quase 50% a mais de indecisos hoje, do que na primeira vez em que Lula disputou uma reeleição. Considere, ainda, que a resposta espontânea tende a favorecer os nomes mais conhecidos.

O percentual de indecisos, em disputa por reeleição, está muito alto para respostas espontâneas faltando um ano. Em julho de 2005, por exemplo, na primeira vez em que Lula disputou a reeleição, o percentual espontâneo para ele era de 22% e os indecisos, 45%, segundo Ibope.

Tarcísio, do ponto de vista da opinião pública, mostra-se ainda pouco viável para uma candidatura nacional, ainda que a extrema-direita e a elite econômica paulista continuem insistindo no caminho contrário. Agora, isso indica situação tranquila para Lula? Não, ao contrário.

Os indecisos caíram de 75% em maio, para 69% em outubro, uma diferença de 6 pontos percentuais em seis meses. Agora, vejamos: o crescimento de Lula foi superior à queda de indecisos, o que indica uma possível migração de eleitores bolsonaristas para Lula - da parte menos radical.

Bolsonaro, que em maio tinha 9%, chega a a outubro com 6%, uma oscilação para baixo. Aqui, vale citar Bolsonaro por se tratar de resposta espontânea. E Tarcísio oscilou em torno de 1% durante todo o período, apesar da grande visibilidade pública que teve nos meses de medição.

O gráfico mostra a série de maio a outubro de 2025 de respostas espontâneas para presidente em 2026. Estão na imagem os três nomes citados em todas as pesquisas. Em maio, 11% diziam pretender votar em Lula. Em outubro, isso subiu para 19%. Cresceu 8pp, além da margem de erro.

A um ano da eleição, o que importa nas pesquisas de opinião é a intenção de voto espontânea, aquela que o respondente diz o nome, sem uma lista de opções. Isso indica os potenciais candidatos mais presentes na memória saliente do eleitor. E, o mais importante, é a tendência.

8/8 Então, se você encontrar algum bolsonarista enfezado (cheio de fezes), releve. Seja compreensivo. Ele não teve um bom mês, viu.

7/8 Em resumo, o mês de setembro de 2025 tomou do bolsonarismo o patriotismo, o líder condenado em ação penal, o discurso contra corrupção, o apoio internacional a medidas contra o País e o pré-candidato a presidente em 2026. Olha, esse mês foi dramático para aquele pessoal.

6/8 Em 29 de setembro, após reunião com seu líder, Tarcísio de Freitas manteve decisão de não disputar presidência. O bolsonarismo perdeu o seu pré-candidato predileto como plano B para a presidência, faltando menos de oito meses para o início da campanha eleitoral de 2026.

5/8 Em 23 de setembro, nos discursos de abertura da Assembleia Geral da ONU, o bolsonarismo viu o presidente dos EUA fazer elogios ao presidente do Brasil e, com isso, perdeu a chantagem pública, via sanções econômicas, contra o Brasil e autoridades nacionais.


4/8 Em 16 de setembro o bolsonarismo perdeu o discurso de combate à corrupção com todos os deputados do movimento votando a favor da PEC da blindagem, que inviabilizava investigações contra deputados e presidentes de partidos. Não tem mais como dizer que é contra a corrupção.

3/8 Em 11 de setembro o bolsonarismo perdeu o discurso de não defender bandido. O principal líder do movimento foi condenado a 27 anos de prisão pelo STF por corromper instituições durante o mandato e usar violência para interromper o mandato do presidente eleito em 2022.

2/8 Em 7 de setembro o bolsonarismo perdeu o discurso do patriotismo ao aplaudir gigantesca bandeira dos EUA, em evento na Av. Paulista. Desde então, o discurso patriótico na base bolsonarista perdeu lastro social.

1/8 Terminou o mês de setembro de 2025, o pior mês para o bolsonarismo político nos últimos 10 anos e eu posso mostrar o desastre cronologicamente:

Bolsonarismo, como movimento político, é ruim. Como se diz lá no norte do Paraná, um palanque no banhado. E posso provar. Com menos de 10 anos de existência, está indo para sua terceira eleição presidencial dividido. Quem for o candidato, não levará todos os votos do movimento.

Quando se considera a posição ideológica do respondente, as diferenças são ainda mais significativas. Mas isso é assunto para outro gráfico. O relatório completo da pesquisa pode ser acessado em ipespe.org.br.