Criado pelo fotógrafo e sua mulher, Lélia, Instituto Terra já recuperou cerca de 2,5 mil nascentes Morto nesta sexta-feira (23), aos 81 anos, Sebastião Salgado se notabilizou não só por suas fotografias engajadas e líricas, sempre em preto e branco, mas também por sua dedicação à proteção ambiental. Em 1998, ao lado da mulher, Lélia, ele criou o Instituto Terra para recuperar a Bacia do Rio Doce, região entre Minas Gerais e o Espírito Santo castigada pelo desmatamento. Sebastião Salgado: 'Só me falta morrer agora', disse fotógrafo em entrevista de 2024 'O sal da Terra': Documentário sobre Sebastião Salgado, feito pelo filho do fotógrafo e pelo alemão Wim Wenders, concorreu ao Oscar O Instituto Terra já plantou mais de 2 milhões de árvore na Mata Atlântica e recuperou cerca de 2,5 mil nascentes nos últimos anos. Em 2024 foi anunciado que outras 4 mil estariam incluídas na nova fase do programa Olhos D’Água. O Instituto Terra também promove o desenvolvimento rural sustentável na região da Bacia do Rio Doce. Salgado, aliás, nasceu ali, no distrito de Conceição do Capim, em Aimorés, em 1944. No ano passado, em entrevista ao “Globo repórter”, o fotógrafo recordou a origem do projeto. “Um dia meu pai tinha feito uma estrada e tinha dado uma chuva muito grande e o trator tinha jogado a terra do lado de baixo da estrada. Aquela terra foi toda para o córrego, matou o córrego, e a Lélia teve uma ideia incrível. Ela falou: ‘Tião, vamos plantar a floresta que estava aqui antes’”, contou Salgado. Antes e depois de área reflorestada pelo Instituto Terra, criado por Sebastião Salgado Reprodução/TV Globo “Nós hoje trabalhamos em um projeto imenso, talvez o maior projeto de águas do planeta. Estamos recuperando milhares de nascentes e, para você recuperar uma nascente, você tem que plantar uma microfloresta de mais ou menos 500 árvores”, disse o fotógrafo, destacando o bem que trabalhar para a natureza lhe fez. “Quando comecei aqui, eu vinha doente de reportagens duríssimas que eu fiz na África. Meu corpo estava morrendo e essa terra me curou. É algo assim que te dá um prazer de lavar a alma”, afirmou. Nas redes sociais, o Instituto Terra lamentou a morte de seu criador. “Sebastião foi muito mais do que um dos maiores fotógrafos de nosso tempo. Ao lado de sua companheira de vida, Lélia Deluiz Wanick Salgado, semeou esperança onde havia devastação e fez florescer a ideia de que a restauração ambiental é também um gesto profundo de amor pela humanidade. Sua lente revelou o mundo e suas contradições; sua vida, o poder da ação transformadora”, diz a nota. “Neste momento de luto, expressamos nossa solidariedade a Lélia, a seus filhos Juliano e Rodrigo, seus netos Flávio e Nara, e a todos os familiares e amigos que compartilham conosco a dor dessa perda imensa. Seguiremos honrando seu legado, cultivando a terra, a justiça e a beleza que ele tanto acreditou ser possível restaurar”, finaliza o texto.