Denúncias em set de filme sobre Bolsonaro incluem relatos de agressões, atrasos no pagamento e comida estragada
O Sindicato dos Artistas e Técnicos em Espetáculos de Diversões do Estado de São Paulo (Sated-SP) afirma que recebeu relatos de agressões, atraso no pagamento e fornecimento de comida estragada a atores e figurantes do filme "Dark Horse", que pretende contar a trajetória do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Nesta semana, a organização enviou delegados sindicais ao set de gravações após "dezenas de denúncias" sobre as más condições de trabalho.
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Na obra, Bolsonaro será interpretado pelo ator americano Jim Caviezel. O roteiro foi produzido pelo deputado federal Mário Frias (PL-SP), ex-Secretário Especial de Cultura do governo Bolsonaro, e a direção é do americano Cyrus Nowrasteh.
De acordo com o Sated-SP, um ator de 21 anos relatou ter sido agredido durante uma diária no Memorial da América Latina, no dia 21 de novembro. Figurante, ele decidiu entrar no set com o celular, o que não era permitido, e, ao ser abordado na revista, diz ter sido arrastado e empurrado para fora do espaço com tapas e socos. Segundo ele, não havia local adequado para armazenar o aparelho.
— Acionamos o Ministério do Trabalho para acompanhar, mas infelizmente não tivemos resposta em tempo hábil. Produção internacional nenhuma pode chegar num país e trabalhar como bem entendem — destaca Rita Teles, presidente do Sated-SP.
Rita conta que os denunciantes devem ser preservados, dado o receio de que, uma vez expostos, possam ficar marcados e não consigam outros trabalhos.
— Oficializadas, foram 15 denúncias. Fora o que chegou para mim por rede social, via direct do Instagram, WhatsApp do Sated, no meu WhatsApp, no da vice-presidente. Vieram denúncias de pessoas que estavam trabalhando em diferentes cargos. Figuração, pessoas que estavam no elenco, na técnica, de muitas vias — relata.
Conforme as denúncias, houve atrasos no pagamento e episódios envolvendo alimentação inadequada, como o fornecimento de comida estragada. Atores e figurantes também teriam sido impedidos de ir ao banheiro. Segundo o Sated-SP, os cachês e termos de autorização de uso de imagem e voz pagos também foram abaixo do padrão do setor.
De acordo com a o dossiê produzido pelo sindicato, os trabalhadores relataram que a equipe técnica e o elenco principal estrangeiro recebiam alimentação em regime de "self-service", com direito a café da manhã, almoço e lanche da tarde. Para a figuração brasileira, no entanto, teria sido fornecido apenas um kit lanche para uma diária de oito horas.
"Esse tratamento diferenciado foi relatado pelos denunciantes como discriminatório e indigno, destoando de práticas consagradas no mercado e das condições mínimas normalmente asseguradas em produções audiovisuais de porte semelhante", aponta o relatório.
O GLOBO procurou o deputado federal Mário Frias (PL-SP), que assina produção e roteiro do longa, mas não teve retorno até a publicação da reportagem.