Ousado e esperançoso, ergueu-se.Iniciou a criação de sua próxima obra,Pretensioso de seu futuro deu-seAgora recusou a caneta e pegou a viola,Que som estranho era esse?O público questiona,E Prometeu cantarola.Irresponsável Prometeu,Antes do tempo ser tempo criou o amorE por amor desfaleceu,Contou apenas com o humano calorO frio não foi o que prometeu.Observou e não acreditouNa tragédia que criou.

É muito solitário aqui. Estar lúcida e sozinha é como estar num barco à deriva, por aí num oceano qualquer, durante a noite. Olho para todos os lados, tudo está escuro; o que posso ver é apenas mar, e mais mar, e mais mar, o infinito mar. Tudo que ouço é o barulho do mar. Tudo que sinto na pele é o frio.

Eu odeio dar tchau. Se pudesse viveria aí bem dentro mesmo. Aguardo todos os dias por um momento de paz. Um momento imaculado preenchido pela ausência de dúvidas e palpitações. Ocorre quando durmo ou quando meus ouvidos são afogados por uma música. Ou quando troco calor com outro corpo. Aguardo todos os dias para o momento em que me agarras e desperta uma onda de analgesia, me insere num transe estranho que me deixa meio adormecida.

Numa manhã frescaDe um sábado primogênitoHá apenas uma queixa,De caráter progênito. A luz de um Sol gentilPenetra pela claraboia de meu espírito...É um dia tão cínico.Pães simples me servem de alimentoE de certa forma, um alentoE preenchimento.Tal que o pão preenche o vazio do meu estômagoMas não o vazio da minha boca.

Como boa garota otimista que eu era, há um ano atrás não esperava estar aqui, hoje, escrevendo este texto — época em que desejava que o que quer que eu escrevesse fosse para você. Como esperado da minha antiga natureza otimista, esperava receber seu boa noite, e acordar com seu bom dia — o início e o fim com você.

Sou tudo.*ClickRetirados os dedos sobre o interruptor,Agora direciona o olhar para o fundo da salaEm seu interior sente um calorFamiliar, até onde a memória não falhaSob luzes acesasAgora estou visívelCoberta de incertezasSou uma mulher disponívelCaminho em sua direçãoHesitante, porém proativaEstende a sua mãoPara encerrar minha trilha…

Dentre minhas memórias positivas, meu tipo favorito são aquelas que, como uma foto boomerang, rodam em loop pela minha cabeça. A mesma cena. Repetidas vezes. A mesma cena. Repetidas vezes. Curioso como um toque tão simples, ou até sílabas pronunciadas de um jeito específico, cutucam meu cérebro por dias e dias. Uma ação que durou no máximo 5 segundos pode alojar-se em minha cabeça por dias, meses, anos.

Olhos grandes me avistaramBrilhantes e redondos, como me encantaram!Eram cor de carameloNo semblante de um animal belo.Animal esse que caminhava sobre duas pernasLongas, finas, retas.Possuía semelhantes membros superiores:Braços, menores que os inferiores.Animal esse que mostrava os dentesAlegremente,Adoravelmente,Constantemente.Animal esse que me trouxe alegria,Todos os dias, em demasiaE assim que me viaLogo sorria E os olhos... cor de caramelo

Sentados aquiCompartilhando o mesmo arOutros aliAlguns láUm espaço confinadoUm livro sendo marcadoSeus olhos concentradosAmbos estamos calados.Minha presença invisívelAbalada pela tuaRessoa à tua respiração audível.Digo, em sumaQue estou ao lado da Lua,E ainda assim não posso alcançá-la.

...para você? Deveria ter perguntado a todos que me deixaram tal como o adúltero acorda e levanta do leito que compartilhou com a amante, e vive o dia como qualquer outro. Como amante, minhas memórias são mais vívidas e resolutas, embriagadas em pequenos momentos tão imensamente significantes, que pelo adúltero só poderiam ser lembrados através da visão ampliada que uma lupa confere.

Não sou romântica, mas tenho sentimentos. Não acredito em metades que se completam, mas acredito no poder dos laços amorosos e sei amar. Não há "pessoa certa", são como anjos predestinados a alguém, e não acredito em anjos e tampouco em destino. Porém, sei exatamente o sentimento de, como um quebra-cabeça, encaixar-se com um alguém aparentemente feito medida por medida para mim.

Vem a maresia distante:Salga meus lábios,Preenche minhas narinasCopas oscilantes,Troncos esquálidos,Pássaros pálidos.É um rio que se encontra adiante.A maresia veio até mim,Um chamado,Do mar muito distante.

Queria que o caminho fosse um, foi outro. Sabia que não podia ser, entretanto Tentamos o suficiente? Não-poder é querer, poder não é tentar. Muitos caminhos, muitas possibilidades, uma única impossibilidade — uma única moeda, dois lados. Uma única moeda oxidada. Junte vários centavos e continuará pobre, ela não vale de nada. Amor não é o suficiente. Tentei pouco, busquei revitalizar-me. Mas você não, você não. Persistir na mesma trilha não é tentar, é insistir.

Talvez, depende, tanto faz. Conheço pessoas que possuem uma real inimizade com essas três palavras. "Comigo é sim ou não, é tudo ou nada", elas dizem, parecendo marrentas, seguras e superiores. Mas por quê? Por que o mundo deve ser tão binário? Ou você é homem ou é mulher, ou é preto ou é branco, ou é hétero ou é homo, ou é petista ou é bolsonarista.

A luz natural perpassa pela sala escuraOh meu bem, você está no caminho delaSem nem perceber, leve criaturaOh meu bem, você deveria estar numa tela,Ou nos afrescos em abóbadasDa mais alta catedral.Azul, lilás, há um gradiente disfarçadoFaixas desiguais, seu rosto caladoParece banhado pelo neon, ou pela LuaNeste superlotado quartoSeria possível abrir seu coraçãoCom uma gazua?Ergue-se como um prisma ambulanteE esta santa luz ondulanteLhe fez muito bem.

O peso das mágoas desse caso antigoSão como os fantasmas de uma sacola de pãoQue você havia pedido na volta do sacolão.Eram 20 pães francesesEu só gostava do suíço, que era um entre elesFui comendo aos poucos para saborearE você a devorarNão tive oportunidades, então deixei mofar.À propósito, o pão não está mais láMas a sacola ainda está, pesada como antesOs fantasmas vêm das migalhas que você deixouE o meu mofo.