Com 40% dos votos apurados, Jara e Kast se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais do Chile, aponta imprensa
Os candidatos Jeannette Jara, de esquerda, José Antonio Kast, ultraconservador, se enfrentarão no segundo turno das eleições presidenciais do Chile em 14 de dezembro, após um primeiro turno marcado por temores relacionados à criminalidade, que a maioria da população associa à imigração irregular. Com cerca de 40% das urnas apuradas, a candidata governista aparecia com 26,45% dos votos na votação deste domingo, e seu adversário, 24,46%. A contagem ainda está em andamento.
Contexto: Eleições presidenciais no Chile ocorrem em meio ao avanço da extrema direita, fadiga política e medo da violência
Medida: Boric propõe uso de Forças Armadas nas fronteiras por 'decreto' para combater imigração ilegal
Apesar de ser um dos países mais seguros do continente, o aumento da criminalidade nos últimos anos impulsionou a extrema direita, que promete deportações em massa de imigrantes irregulares e uma linha dura contra o crime.
— É necessária união para enfrentar os problemas que nos afligem hoje, que são problemas na área da segurança — disse Kast à imprensa após a votação em Paine, nos arredores de Santiago. — A maioria das pessoas dirá que está com medo.
A votação, que começou às 8h, horário local (o mesmo de Brasília), terminou às 18h, com os primeiros resultados saindo por volta das 20h.
O presidente chileno Gabriel Boric com sua filha Violeta votando nas eleições gerais em Punta Arenas, província de Magalhães, Chile, em 16 de novembro de 2025
MARCELO SEGURA / AFP
Jara, uma comunista moderada que representa uma coligação de centro-esquerda, e Kast, chefe do Partido Republicano, lideravam as intenções de voto entre os oito candidatos para suceder o esquerdista Gabriel Boric.
— A questão da criminalidade precisa ser abordada. Tudo está horrível. (...) É necessária uma mudança — disse Joaquín Castillo, um estudante universitário de 23 anos, à AFP após votar em Santiago.
A violência sem precedentes no Chile dissipou as esperanças de mudança que, quatro anos atrás, catapultaram Boric ao poder e sua promessa não cumprida de alterar a Constituição herdada do ditador Augusto Pinochet (1973-1990), após a revolta social de 2019.
De acordo com o governo, os homicídios aumentaram 140% na última década, passando de uma taxa de 2,5 para 6 por 100 mil habitantes. Entretanto, no ano passado, o Ministério Público registrou 868 sequestros, 76% a mais do que em 2021.
Embora esses sejam padrões baixos até mesmo para os padrões globais, o problema é "a chegada do crime organizado e de crimes antes desconhecidos em nosso país, como assassinatos por encomenda", afirma Gonzalo Müller, diretor do Centro de Políticas Públicas.
Segurança em primeiro lugar
Os mais de 15,6 milhões de eleitores também foram convocados para renovar a Câmara dos Deputados e metade do Senado., na primeira eleição obrigatória após o Chile retomar esse sistema há três anos.
A candidata à presidência do Chile, Jeannette Jara, da coligação Unidad por Chile, vota durante as eleições gerais em Santiago, em 16 de novembro de 2025
RODRIGO ARANGUA / AFP
A campanha foi dominada do início ao fim por propostas de segurança. Isso chegou a forçar Jara a deixar de lado suas ideias para programas sociais.
A ex-ministra do Trabalho de Boric, de 51 anos, antecipou que ela "não terá receio algum quanto à segurança", mas que também garantirá que os chilenos tenham "a segurança de conseguir sustentar-se". Um de seus planos contra o crime organizado é acabar com o sigilo bancário para atacar suas finanças.
Porém, olhando para o segundo turno, "todos os estudos indicam que (ela) perderia para qualquer um dos candidatos da oposição", afirma Rodrigo Arellano, analista da Universidad del Desarrollo.
Caminho desimpedido
O candidato à presidência do Chile, José Antonio Kast, do Partido Republicano, gesticula antes de votar durante as eleições gerais em Paine, ao sul de Santiago, em 16 de novembro de 2025
MARVIN RECINOS / AFP
Kast, de 59 anos, dirigiu sua terceira campanha presidencial contra os 337 mil imigrantes indocumentados, em sua maioria venezuelanos. Com um discurso mais "moderado" dessa vez, ele manteve o núcleo duro de sua plataforma — repressão ao crime, deportações imediatas, fortalecimento das forças de segurança —, mas suavizou o tom ultraconservador em temas morais, tentando expandir sua base para o centro.
O político promete deportações em massa e um "escudo de fronteira" para impedir a entrada de imigrantes sem documentos, que inclui cercas de metal e valas. Além disso, enviará militares aos focos de insegurança nas cidades.
Sua mensagem repercutiu em meio à comoção causada pelo Tren de Aragua, a temida gangue venezuelana envolvida em sequestros, ex torsão e outros crimes, que estendeu suas operações por toda a América do Sul. A população imigrante duplicou em sete anos e atingiu 8,8% do total em 2024 neste país de 20 milhões de habitantes, de acordo com as estatísticas oficiais.
Por sua vez, Kaiser, mais à extrema direita que Kast, adotou um discurso mais radical contra os migrantes sem status legal. O deputado e influenciador digital — que se autodenomina libertário como o argentino Javier Milei — ganhou notoriedade com declarações polêmicas (já questionou o direito das mulheres ao voto e ironizou casos de estupro em entrevistas) e um estilo agressivo nas redes. O "Milei chileno" defende o ultraliberalismo econômico e tinha como promessa de campanha transferir imigrantes com antecedentes criminais para a megaprisão de El Salvador, assim como Donald Trump nos EUA.
— O que está em jogo aqui é se o distanciamento da América Latina em relação aos Estados Unidos e ao mundo livre continuará a se aprofundar — disse Kaiser à imprensa após votar em Santiago.
Com AFP.