Iphan aprova tombamento do prédio do antigo DOPS no Rio, marco da repressão e da luta pela democracia
O Conselho Consultivo do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan) aprovou, nesta quarta-feira, o tombamento definitivo do edifício do Dops (sigla do antigo Departamento de Ordem Política e Social), no Centro do Rio de Janeiro. A decisão, tomada durante a 111ª reunião do colegiado, reconhece o imóvel como símbolo das lutas sociais e políticas pela democracia e como importante exemplar da arquitetura eclética no país.
Com a medida, o prédio será inscrito nos Livros do Tombo Histórico e das Belas Artes. O tombamento provisório já havia sido publicado no Diário Oficial da União em 30 de outubro. Segundo o presidente do Iphan, Leandro Grass, o ato preserva a memória das violações cometidas durante a ditadura militar e homenageia vítimas da repressão.
— Este ato homenageia aqueles que foram torturados, perseguidos, mortos ou desaparecidos por lutarem pela liberdade. Ao torná-lo patrimônio, contribuímos para que as gerações presentes e futuras não repitam os erros desse período — afirmou.
Projetado por Heitor de Mello e inaugurado em 1910, o edifício surgiu no contexto das reformas urbanas do prefeito Pereira Passos e foi inicialmente chamado de Palácio da Polícia. Ao longo do século 20, abrigou diversos órgãos de segurança, incluindo o Dops, que durante o Estado Novo e a ditadura militar se tornou centro de prisões, interrogatórios e torturas.
Além de sua carga histórica, o prédio se destaca pela arquitetura: três pavimentos, pátio interno, fachadas simétricas, vitrais, balaustradas, ornamentações e uma cúpula na esquina, referências da Belle Époque e da modernização do Rio. O local também guardou o Acervo Nosso Sagrado, formado por objetos de religiões de matriz africana confiscados por ações policiais entre 1890 e 1946.
Para o conselheiro relator, José Ricardo Oriá Fernandes, o tombamento representa um marco na preservação da memória traumática brasileira.
— A partir do reconhecimento do primeiro lugar de memória traumática do país a ser tombado em nível federal, estamos realizando uma ação que, sem sombra de dúvida, ficará registrada nos anais da história da preservação do patrimônio cultural brasileiro — disse o conselheiro.
A superintendente do Iphan no Rio, Patricia Wanzeller, ressaltou que o reconhecimento oficial reforça a relevância histórica do edifício:
— Tombar o antigo DOPS significa reconhecer oficialmente sua relevância na história brasileira — disse Wanzeller.
A expectativa agora é que o imóvel receba um centro de memória, ampliando seu papel como espaço de reflexão sobre democracia, direitos humanos e justiça.