Casa Branca anuncia revisão abrangente das exposições do Smithsonian
O governo Trump anunciou na terça-feira que pretende iniciar uma ampla revisão das exposições atuais e planejadas no Smithsonian Institution, analisando textos em murais, sites e redes sociais "para avaliar o tom, o enquadramento histórico e o alinhamento com os ideais americanos".
Funcionários da Casa Branca anunciaram a revisão em uma carta enviada a Lonnie Bunch, secretário do Smithsonian. Os museus serão obrigados a ajustar em até 120 dias qualquer conteúdo que o governo considere problemático, "substituindo linguagem divisiva ou ideologicamente orientada por descrições unificadoras, historicamente precisas e construtivas".
A revisão, que começará com oito dos 21 museus do Smithsonian, é a mais recente tentativa do presidente Donald Trump de impor sua vontade ao Smithsonian, que tradicionalmente opera como uma instituição independente que se considera fora da alçada do poder executivo.
Kim Sajet, diretora da National Portrait Gallery, renunciou em junho após Trump afirmar que a demitiria por ser partidária. O conselho administrativo do Smithsonian afirmou na época ser o único responsável pelas decisões de pessoal.
Em sua carta, divulgada em primeira mão pelo Wall Street Journal, a Casa Branca afirma que a revisão "visa garantir o alinhamento com a diretriz do presidente de celebrar o excepcionalismo americano, remover narrativas divisionistas ou partidárias e restaurar a confiança em nossas instituições culturais". Acrescenta que o "objetivo não é interferir nas operações cotidianas de curadores ou funcionários, mas sim apoiar uma visão mais ampla de excelência que destaque retratos historicamente precisos, inspiradores e inclusivos da herança americana". O texto é assinado por Lindsey Halligan, assistente especial do presidente; Vince Haley, diretor do Conselho de Política Interna; e Russell Vought, diretor do Escritório de Administração e Orçamento.
Em um comunicado, o Smithsonian afirmou que seu "trabalho se baseia em um profundo compromisso com a excelência acadêmica, a pesquisa rigorosa e a apresentação precisa e factual da história". “Estamos revisando a carta com esse compromisso em mente”, continua, “e continuaremos a colaborar construtivamente com a Casa Branca, o Congresso e nosso Conselho de Regentes.” Bunch não retornou imediatamente a ligação solicitando comentários.
Preocupação de historiadores
Alguns historiadores expressaram preocupação com a interferência política em uma instituição que por muito tempo foi vista como independente. Annette Gordon-Reed, professora da Universidade Harvard e presidente da Organização dos Historiadores Americanos, disse que o Smithsonian já estava fazendo um "trabalho fantástico ao apresentar a história americana".
"É um lugar muito popular", destaca ela. "O conteúdo das exposições não deve refletir as preferências de qualquer administração. Elas são o produto de muito trabalho árduo de pessoas dedicadas e honradas que desejam apresentar o quadro mais preciso possível da história americana. Isso inclui os triunfos e as tragédias."
Samuel J. Redman, professor de história da Universidade de Massachusetts Amherst, que escreveu extensivamente sobre o Smithsonian, chamou a revisão de "um ataque total à autonomia de todos os diferentes ramos da instituição".
O foco de Trump no Smithsonian começou em março, quando ele emitiu uma ordem executiva intitulada "Restaurando a Verdade e a Sanidade da História Americana". No texto, ele alega que o Smithsonian havia "caído sob a influência de uma ideologia divisionista e centrada na raça" e que promovia "narrativas que retratam os valores americanos e ocidentais como inerentemente preconceituosos e opressores". No mês passado, foram apresentados projetos de lei na Câmara e no Senado que transformariam a ordem executiva em lei.
Inicialmente, a revisão da Casa Branca se concentrará em oito museus do Smithsonian: o Museu Nacional de História Americana, o Museu Nacional de História Natural, o Museu Nacional de História e Cultura Afro-Americana, o Museu Nacional do Índio Americano, o Museu Nacional do Ar e do Espaço, o Museu de Arte Americana do Smithsonian, a Galeria Nacional de Retratos e o Museu e Jardim de Esculturas Hirshhorn. Outros museus seriam revisados em uma fase posterior, afirma o texto.
A carta da Casa Branca afirma que, em 30 dias, os museus devem fornecer materiais, incluindo catálogos e programas de todas as exposições atuais, arquivos digitais de todos os cartazes e etiquetas de galerias, e propostas para exposições nos próximos três anos. Durante esse período, a equipe do governo também iniciará visitas de observação e realizará inspeções em exposições atuais.
Em 75 dias, os museus devem fornecer um inventário de suas coleções permanentes, uma lista de parcerias externas e os resultados de pesquisas com visitantes.
A análise inclui a programação em torno do 250º aniversário do país no próximo ano. A data há muito tempo é de particular interesse para Trump. Desde que retornou ao cargo, ele tem se empenhado em deixar sua marca pessoal na comemoração. Em janeiro, ele emitiu um decreto, "Celebrando o 250º Aniversário da América", que pedia uma "grande celebração" e estabeleceu uma força-tarefa relacionada, sediada no Departamento de Defesa e supervisionada por Haley.
Trump também tomou medidas para revitalizar seu planejado Jardim Nacional dos Heróis Americanos, um jardim de esculturas patrióticas que ele propôs durante seu primeiro mandato.
Em junho, o presidente ordenou uma revisão completa da sinalização e de outros materiais do Serviço Nacional de Parques, exigindo que todo o material considerado "inadequado" seja removido ou coberto até 17 de setembro. Não está claro, no entanto, se a Casa Branca tem o poder legal para impor uma ordem semelhante no Smithsonian.
Trump não controla diretamente o Smithsonian. A instituição é supervisionada por um conselho que inclui democratas e republicanos e também pelo Congresso. Mas o Smithsonian está enfrentando pressão, especialmente porque 62% de seu orçamento anual de mais de US$ 1 bilhão provém de verbas do Congresso, verbas federais e contratos governamentais.
O Smithsonian fechou seu escritório de diversidade logo após o presidente assinar um decreto proibindo programas de diversidade, equidade e inclusão em organizações que recebem verbas federais. No mês passado, a artista Amy Sherald retirou sua próxima exposição da National Portrait Gallery, alegando censura.
Um confronto anterior com o governo foi evitado quando o Smithsonian emitiu uma declaração que defendia sua autoridade independente, mas reconhecia a necessidade da instituição de ser imparcial em sua representação da história e da vida americanas. Alguns membros da liderança do Smithsonian pensaram que as medidas poderiam restringir a Casa Branca, mas parecem ter subestimado seu compromisso de abordar o que consideram deficiências.
A Casa Branca afirmou que a revisão envolveria a colaboração entre funcionários do museu, da administração federal e de outras agências. "Ao focar no Americanismo — as pessoas, os princípios e o progresso que definem nossa nação — podemos trabalhar juntos para renovar o papel do Smithsonian como a principal instituição museológica do mundo", afirmou.